
Gênero: Pop / Folk / Rock
Gravadora: Republic Records
Lançamento: 19 de abril de 2024
Em seu décimo primeiro álbum de estúdio, a voz de Taylor Swift se mantém sem brilho e projeção, a mediocridade é abraçada e sua falta de criatividade sonora revela sua superficialidade.
Nesta sexta-feira (19), Taylor Swift lançou seu décimo primeiro álbum de estúdio intitulado “The Tortured Poets Department”, que sucede o Álbum do Ano do Grammy Awards 2024, “Midnights” (2023).
No ato da premiação que ocorreu em fevereiro deste ano em Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos, ela utilizou a audiência para anunciar que seu próximo álbum de estúdio estaria chegando em abril deste ano, e então o projeto está entre nós.
Após o término de um relacionamento de 6 anos com o ator britânico Joe Alwyn, a certeza era quase absoluta que Swift iria abordar o tema da separação em seu novo disco, visto que já se tornou uma característica dela como musicista.
O álbum é produzido e co-escrito com seu companheiro e amigo de longa data, Jack Antonoff. O músico e compositor Aaron Dessner também está envolvido no projeto.
Após o blockbuster estadunidense “Midnights”, a aposta na mesma fórmula era uma jogada quase que absoluta de sucesso, visto que há previsões até o momento desta análise que o disco vendeu mais de 2 milhões de unidades apenas no solo natal da artista, sendo sua maior estreia até então e uma das maiores da história dos Estados Unidos. O sucesso comercial de Swift é indiscutível, mas sua arte não.
O novo álbum conta com 16 faixas com uma duração total de 1 hora e 5 minutos que no geral possui uma abordagem de arranjos linear e muito semelhante entre as faixas. O folk que já vimos dela está sutilmente presente, assim como rock suave dos anos 80, mas o que predomina desta vez é um pop sintetizado tão distorcido que quase soa genérico e inconsistente.
As faixas do álbum não conversam nada bem com os arranjos produzidos por Jack e Aaron, e a abordagem vocal de Swift é tão preguiçosa e desleixada que nem o lirismo prolixo característico dela pode salvar. No meio de sintetizadores confusos, vazios e nada originais, sua voz não brilha e não há nenhuma projeção, e, apesar de suas letras serem altamente valorizadas, a impressão que fica é que as “poesias” são meramente palavras jogadas ao vento que não comovem.
O disco inicia-se com a faixa “Fortnight”, colaboração com o rapper estadunidense Post Malone, canção que serviu também como single carro-chefe do álbum. Há uma bateria distante e ecoante ao fundo seguido de um sintetizador pop comum e básico ondulando uma voz cansada e quase falada, onde ela diz: “todas as minhas manhãs são segunda-feira / presas em um fevereiro sem fim / eu tomei a droga milagrosa / bola pra frente / os efeitos eram temporários / e eu te amo, isso está arruinando minha vida / eu toquei você por apenas uma quinzena”. Em outro trecho, ela apela: “e por uma quinzena, lá estávamos nós para sempre correndo / até você às vezes perguntava sobre o tempo / agora você está no meu quintal / fomos transformados em bons vizinhos / sua esposa rega as flores, eu quero m**** ela”. A participação de Post Malone aqui é um desperdício considerável, onde ela o coloca para acompanhá-lo e ele fica tão apagado na faixa que mais soa como um backing vocal que a auxilia a descrever o que a faixa demanda.
A seguir, temos a faixa-título “The Tortured Poets Department”, que é de longe uma das mais insignificantes faixas-títulos do repertório de Swift. O início da faixa conta com uma bateria tão distante soando quase como uma demo feita por adolescente de 14 anos que baixou o BandLab em seu smartphone de 150 dólares para fazer testes. O lírico prolixo não consegue se conectar com um arranjo tão entediante e previsível. O refrão pontua positivamente, onde ela recita: “e quem vai te abraçar como eu? / e quem vai conhecer você, se não eu? / eu ri na sua cara e disse: ‘você não é o Dylan Thomas, eu não sou a Patti Smith, este não é o Hotel Chelsea, somos idiotas modernos’ / quem vai te abraçar como eu?”.
E então temos a liricamente constrangedora “My Boy Only Breaks His Favorite Toys”. A canção é tão comum e imóvel, que nem a conversa de sua voz sem projeção causa comoção, como no trecho: “meu garoto só quebra seus brinquedos favoritos / eu sou a rainha dos castelos de areia que ele destrói / porque encaixa muito bem / peças de quebra-cabeça na calada da noite / eu deveria saber que era um problema de tempo”. A atitude de princesa Peach aguardando pelo Mario a salvar do vilão Bowser é tão clichê e constrangedor que para o ouvinte pode causar um desconforto no meio de um pop sintetizado que tenta causar um efeito melódico surpreendente (o que não entrega).
“Down Bad” vai desviando da inautenticidade e encontra um ponto de equilíbrio satisfatório. A voz de Swift é mais trabalhada e as notas vocais são mais conectadas e até o arranjo de Antonoff e Dessner parece mais interesse, enquanto ela diz: “agora estou mal, chorando na academia / tudo sai como uma petulância adolescente / ‘f***-se se eu não posso ter ele’ / ‘eu poderia simplesmente morrer, não faria diferença’ / me sinto mal, acordando sangrando / olhando para o céu / volte e me pegue / f***-se se eu não posso ter a gente”.
“So Long, London” começa com harmonias com vozes de cabeça e cheias de ar, soando como um coral inglês num dia nublado e úmido em Londres. Nesta faixa, Swift se conecta com a musicalidade melhor, mas melodicamente, a produção de Jack e Dessner continua nada surpreendente e nem agradável. A esta altura do disco, vemos um rompimento, pelo menos é o que conseguimos enxergar no refrão: “pensando: ‘quanto de tristeza você achou que eu tinha? que eu tinha em mim?’ / oh, a tragédia / até logo, Londres / você encontrará alguém”.
“But Daddy I Love Him” suaviza com um violão que a carrega enquanto ela canta quase resgatando o country music de seus primeiros discos, como no refrão: “agora estou correndo com meu vestido desabotoado / gritando: ‘mas, papai, eu o amo! vou ter um filho com ele’ / não, não vou, mas vocês deveriam ver a cara de vocês, estou dizendo para ele pular as cercas / não, não estou recuperando o juízo / eu sei que ele é louco, mas ele é quem eu quero”.
“Fresh Out The Slammer” é uma metáfora desconexa que uma guitarra com volume oscilante tenta causar um efeito no qual não é tão bem definido. Swift desta vez aborda uma metáfora que para bons intérpretes, pode ser relacionável para aqueles que se sentem aprisionados por uma relação complicada, como no trecho: “meus amigos tentaram / mas eu não quis ouvir / me observam desaparecendo diariamente / por apenas um vislumbre de seu sorriso / todas aquelas noites / ele me manteve em movimento / coloquei você em todos os meus poemas / agora estamos na linha de partida / cumpri meu tempo”.
“Florida!!!”, colaboração com a banda britânica de rock indie Florence and the Machine, foi uma adição razoável, melhor que a de Post Malone e melhor aproveitada. A percussão que vai em crescendo até o refrão que deixa a atmosfera mais preenchida é o único momento do disco em que há uma sensação de preenchimento, na qual as outras 15 faixas deixaram a desejar. O rock suave casa bem com Florence and the Machine, principalmente no refrão: “Flórida!!! / é uma droga e tanto / Flórida!!! / posso acabar com você?”. A faixa escorrega em um sample de “I Know You Were A Trouble” de “Red” (2012).
“Guilty As Sin?” é um leve suspiro agradável que pode elevar em alguns milímetros a experiência de ouvir o disco. Melodicamente, continuamos reféns da produção de Jack Antonoff, mas pelo menos o esforço em conectar o lírico com o arranjo é mais visível. Ela canta: “e se ele tiver escrito “minha” na minha coxa só na minha mente? / um deslize e caio de volta no labirinto / que maneira de morrer / eu continuo relembrando coisas que nunca fizemos / beijo bagunçado no sono superior / como eu anseio por nosso encontro / sem nem tocar a pele dele / como eu posso ser culpada como o pecado?”.
A seguir, temos as descartáveis e constrangedoras “Who’s Afraid Of Little Old Me?” e “I Can Fix Him (No Really I Can)”. Ambas seguem a mesma linha melódica das faixas anteriores (cansados de ler isto, né?), porém o lirismo é tosco e humilhantes diantes de um pop sutil e passivo, onde na primeira citada ela sai de sua tessitura e grita desafinando: “então eu pulo da forca e levito pela sua rua / invado sua festa como um disco arranhado enquanto eu grito: ‘quem tem medo de mim?’ / eu fui mansa, fui gentil até a vida do circo me fazer dizer: ‘não se preocupem, pessoal, arrancamos todos os dentes dela! / quem tem medo de mim? / bem, você deveria ter”. Na segunda citada, a humilhação é quase um romance de novela das seis. Os acordes são mais lentos e conversantes, onde ela canta com uma impostação vocal que não surpreende, assim como nas faixas anteriores, onde ela canta: “eles balançam a cabeça dizendo: ‘deus, ajude ela!’ / quando eu digo a eles que ele é meu homem / mas seu bom Deus não precisa levantar um dedo / eu posso consertá-lo, não, é sério, eu posso / e só eu consigo”.
“loml”, “I Can Do It With a Broken Heart”, “The Smallest Man Who Ever Lived”, “The Alchemy” e “Clara Bow” são as faixas responsáveis pelo encerramento do disco, onde todas seguem a mesma proposta, com exceção de “loml” que há uma abordagem mais lenta acompanhada de um piano agudo. Ao se encaminhar para o ato de encerramento, é que Swift está indo na contramão de musicistas da idade dela que também passaram por relacionamentos balançados, como Beyoncé em “Lemonade” (2016), Adele em “30” (2021) e Ariana Grande em “eternal sunshine” (2024). Em todos esses citados, houve uma transformação de maturação emocional e artística que representou uma nova divisão no repertório dessas artistas femininas com plataformas gigantes. No caso de Swift, ela se recusa a encontrar a maturidade e vive na fantasia de relacionamentos adolescentes que seguem um ciclo sem fim, como se suas composições dependessem apenas disso e seus relacionamentos também só existissem para criar música, o que não é um problema, mas pode causar uma impressão de superficialidade. Depois de uma turnê grande como a “The Eras Tour” e oito discos lançados (incluindo suas regravações), a criatividade foi esvaziada e o processo de produção do disco foi mal formulado e nada compromissado.
NOTA:

Escute “The Tortured Poets Department” de Taylor Swift aqui: