
Gênero: Pagode / Samba / R&B
Gravadora: Independente
Lançamento: 24 de fevereiro de 2024
“Numanice #3 (Ao Vivo)” é uma exaltação do que há de melhor na música brasileira, feita com um punhado de autenticidade, qualidade e produção excêntrica.
No último dia 24 de fevereiro, Ludmilla lançou seu mais novo ato ao vivo da sequência de seu projeto de pagode “Numanice” intitulado “Numanice #3 (Ao Vivo)”. O disco é o sexto no geral de sua discografia.
O projeto é uma sequência direta de “Numanice” (2020) e “Numanice #2” (2022). Ludmilla provocou tempos antes de “Numanice” que se aventuraria em um projeto de pagode. Até então, ela estava navegando no funk e no pop, em projetos como “Hello mundo” (2019) e “A danada sou eu” (2016), e nunca foi imaginado que ela se moveria para o gênero.
Os dois primeiros projetos de “Numanice” foram extremamente bem recebidos pelo público geral, Ludmilla agraciou shows lotados e um impacto na cultura (especialmente carioca) bem nítido, o que começou a vincular sua imagem ao gênero do samba/pagode.
Passando a lupa em cima da história dela e de qualquer outro fluminense, o pagode faz parte da vida de todos, você queira ou não.
No início de sua carreira, Ludmilla era motivo de piadas e humor ao utilizar o nome artístico de “MC Beyoncé”, que cantava funks com letras descompromissadas com a voz extremamente aguda e estridente que chegava próximo a sair de sua tessitura. Foi visto ao longo do tempo que ela foi se desvinculando da imagem de “MC Beyoncé” e adotou o nome artístico com seu nome natural, com adaptação na escrita, “Ludmilla”. Ela investiu mais em sua artisticidade e em aprimoramento vocal (que a fez ser motivo de zombaria no início de sua carreira).
Nesse “Numanice #3 (Ao Vivo)”, ela aposta no pagode, assim como em seus antecessores do projeto, mas desta vez, ela adiciona pitadas de R&B e jazz, como na faixa “Pique Djavan (Ao Vivo)”. Há as colaborações do maravilhoso Grupo Menos É Mais e o clássico brasileiro artista Belo nas faixas “Destilado (Ao Vivo)” e “26 de Dezembro (Ao Vivo)”.
O disco já se inicia-se com o sucesso espontâneo “Maliciosa (Ao Vivo)”, que é como se fosse uma extensão incrível de “Maldivas” de “Numanice #2” (2022). A faixa retrata sua relação amorosa com sua esposa Brunna Gonçalves, que também é sua companheira de trabalho como sua dançarina. A faixa é um pagode clássico com um lírico que gruda igual cola Super Bonder da Loctite. O cavaquinho com um pandeiro ritmado é delicioso enquanto ela canta: “toda maliciosa, gostosa / praiana, selvagem, malandra / vem ser meu carnaval do Recife / o enredo da minha escola de samba / maliciosa, gostosa / praiana, selvagem, malandra / vem ser meu carnaval do Recife / o enredo da minha escola de samba”. A faixa não poderia ser uma introdução melhor ao projeto!
Em “Você Não Sabe O Que é Amor (Ao Vivo)”, temos mais um clássico que retrata bem o pagode: um lírico que as pessoas se identificam e um arranjo riquíssimo, cru e afinado com instrumentos característicos. Ludmilla muda a impostação de sua voz, onde fica com a voz mais grave como se estivesse numa conversa franca e sincera enquanto canta: “se quiser ficar, só vai me machucar / e perder meu tempo com alguém que não me dá valor / você não sabe o que é amor / lô pra te esquecer, aí liga você / pra me iludir de novo e não cumprir o que você jurou / você não sabe o que é amor”.
A seguir, temos um dos pontos mais altos do projeto, “Pique Djavan (Ao Vivo)” que tem um teclado sintetizado belíssimo que beira uma referência de “Strength, Courage & Wisdom” de “Acoustic Soul” (2001) de India.Arie. A referência a Djavan é algo extremamente lisonjeável, onde ele sempre cantou temas sensuais com sutileza e duplo sentido. O arranjo é bem produzido e impecável.
Em “Destilado (Ao Vivo)”, colaboração com o grupo de pagode Menos É Mais, há novamente uma referência instrumental no início que pode te remeter à “Acoustic Soul” de India.Arie, além de logo na introdução ter quase uma interpolação de “Tudo Pra Amar Você” de “Vício Inerente” (2023) de Marina Sena. A união dela com o grupo encaixa de maneira excelente e o arranjo é riquíssimo, assim como as faixas anteriores.
“Se Não Chorar com Pagode (Ao Vivo)” é a faixa sucessora, e ela segue a mesma proposta de “Você Não Sabe O Que É Amor (Ao Vivo)”, onde ela faz referência a diversos artistas do gênero, como em “se nem a Alcione te emocionar / é que você já morreu por dentro / é melhor terminar” ou em “mas se ouvir o Belo cantar ‘Perfume’ não te emocionar / aí não vai dar nem pra começar”.
O projeto continua e ele é alto astral o tempo inteiro, até mesmo na parte em que retrata desilusões e decepções amorosas. Em “Baile Charme (Ao Vivo)” temos um “pop-pagode-R&B-samba” ao estilo Melanina Carioca que não tem quem não faça relembrar um dia de praia com a brisa do mar a bater no rosto.
Há samples de músicas como “Ouvi Dizer” do grupo Melim e “So Sick” de Ne-Yo, que encaixam bem e são bem colocados aqui. Em “Era Tão Bom (So Sick) [Ao Vivo]” o sample é de fato a amostra instrumental toda, com adicional de um pagode clássico e o refrão segue a mesma linha melódica da canção original de Ne-Yo, onde ela canta: “tô sofrendo por quem não merece mais / cê tirou minha roupa e minha paz / tô sofrendo por quem não tá mais aqui / maldita a hora que eu te conheci”.
Em “26 de Dezembro (Ao Vivo)”, colaboração com Belo, temos uma faixa que é uma história terceirizada onde ela aborda um relacionamento complexo de uma pessoa que se encontra na posição de amante, e a atmosfera da faixa deixa ainda mais explícito, assim como o título: “no seu telefone, eu tenho outro nome / nosso aniversário é só um dia normal / já me acostumei que o Natal é 26 / tá tudo bem / eu espero, tudo que quiser eu quero / você vai, eu morro de saudade / mas nunca vou ser prioridade / não, não”. Um dos pontos mais altos do projeto, com toda a certeza.
Na reta final, temos a faixa com duração de 5 minutos e 17 segundos que é um medley de “Clichê”, música de “Ao vivo em Recife” do grupo Sorriso Maroto com “Cedo ou Tarde”, música de “Agora” (2008) da banda de rock brasileira NX Zero.
“Numanice #3 (Ao Vivo)” é uma exaltação do que há de melhor na música brasileira, feita com um punhado de autenticidade, qualidade e produção excêntrica.
NOTA:

Escute “Numanice #3 (Ao Vivo) de Ludmilla aqui: