Review: “KM2” de Ebony

“KM2” de Ebony
Gênero: Rap / hip-hop / Funk / R&B
Gravadora: Heavy Baile Sounds
Data de lançamento: 12 de maio de 2025

Em seu terceiro álbum de estúdio, Ebony há de ser extremamente explícita, mas ainda reflexiva. “KM2” só servirá se você estiver com a mente aberta.

Em maio deste ano, Ebony lançou seu terceiro álbum de estúdio intitulado “KM2”, fazendo referência ao nome de sua cidade natal, Queimados na Baixada Fluminense do Estado do Rio de Janeiro.

“KM2” é um disco de rap, hip-hop que navega entre o funk e com instrumentais sintetizados que vai na contramão do cenário do rap estadunidense que está cada vez mais enxuto e simplório. Inclusive, esta tem sido uma tendência para o gênero aqui no Brasil, o que nos faz pensar que talvez há um movimento genuíno e original para os artistas nacionais neste aspecto. Junta-se à Ebony na produção do disco Larinhx, AG Beatz e Pep Starling (produtor majoritário do projeto). A produção dos citados é um trabalho bem feito, apesar de soar um pouco desorganizado, o que nos soa proposital devido à abordagem lírica do disco.

O disco conta com 11 faixas que perduram uma escuta de 25 minutos. 11 faixas dentro de um disco de 25 minutos dá uma média de 2 minutos por canção, o que nos faz questionar por que tanta pressa para tratar assuntos como crise na segurança pública fluminense, desigualdade e falso moralismo. 

Para iniciar, já somos introduzidos ao disco com um interlúdio onde há um áudio de chiado de TV com uma reportagem de um programa jornalístico da TV Record enquanto a âncora descreve durante uma reportagem: “a Baixada Fluminense é o local mais violento do Estado do Rio de Janeiro / um estudo mostra que nos últimos quatro anos, mais de cinco mil pessoas foram assassinadas na região”. Então temos uma mensagem de voz de um vendedor ambulante: “gengibre com mel pra garganta, café / amendoim com casca, jujuba de iogurte, jujuba de fruta / tri bala, lua cheia, bala juquinha bala de canela / bala de mel, bala mentos, balas toffee, coraçãozinho / (…) freegells, caramelo, toffee, bolete, morango, iogurte”. Então, temos outra reportagem: “três jovens foram executados em Queimados na Baixada Fluminense / moradores do local disseram à polícia que eles seriam usuários de droga e teriam se recusado a fazer parte de um outro bando envolvido com tráfico”. Entra um arranjo de funk carioca sintetizado para que Ebony finalize citando: “Baixada é cruel”.

Nos momentos seguintes do disco, Ebony entra num aspiral lírico explícito que vai se intensificando que ela tenta justificar com este interlúdio. Nos primeiros atos do álbum, ela vai tentando se ajustar com um discurso meio disperso diante de um flow linear que pode te deixar uma dúvida de “para onde ela vai com isso?”, visto que o tom sexual explícito pode beirar o constrangedor ou você considerará como empoderador a depender do ponto de vista. Este capítulo confuso conceitual tira uns pontos, mas que lhe compensa do meio para o final, pode apostar. As responsáveis por esta sensação são “Parte do Mundo”, “Gin Com Suco de Laranja” e “Festas e Manequins” (colaboração com o produtor AG Beatz mencionado anteriormente nesta análise).

“Vale do Silício” é um dos pontos fortes do disco que mescla até um pouco de R&B vocalmente falando, em maior parte responsabilidade da colaboração de Black Alien e da também produtora do projeto LARINHX. 

Consideramos “Hong He” um dos melhores atos do projeto. Por aqui é onde Ebony engata e encaixa o disco onde deveria, com boas rimas, um flow consistente e um lírico que irá te entreter positivamente, como: “absorventes eram pra ser de graça / as crianças não saem de casa / vim do futuro, ainda ligam pra raça / na escola, não aprendi nada / chamo as amigas pra encher a cara e danço MPB no baile em MTG / anço MPB no baile em MTG / danço MPB no baile em MTG / danço (MTG) / danço (MTG) / danço (MTG) / danço (MTG)” seguido de um synth-pop dançante divertidíssimo e incrivelmente bem produzido.

Ao se encaminhar para o final, a obra se torna ainda mais íntima e pessoal como em “Não Lembro Da Minha Infância” e “Roubando Livros” retratando abusos mantendo a consistência qualitativa de seu tão curto álbum.

O disco encerra-se referenciando o interlúdio do início: “Baixada é cruel / eu amo usar minha voz, essa é a bênção que Deus deu pra mim / mas minha vida é confusa, e quando eu canto, sempre sai em rima / meu rap é impecável, caso um dia Jesus queira ouvir / eu sou implacável, caso p**** se esqueçam disso / eu sei que é confuso, uma garota é o melhor rapper vivo”.


Em seu terceiro álbum de estúdio, Ebony há de ser extremamente explícita, mas ainda reflexiva. “KM2” só servirá se você estiver com a mente aberta.

NOTA:

Escute “KM2” de Ebony aqui:

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