Review: “Vivaz” de Filipe Ret

“Vivaz” de Filipe Ret
Gênero: Hip-hop / Rap
Gravadora: Tudubom Records
Lançamento: 20 de dezembro de 2012

Uma escuta obrigatória: Em “Vivaz”, Filipe Ret entregou uma odisseia no rap brasileiro que poucos conseguiram até hoje

Em dezembro de 2012, Filipe Ret lançou seu segundo álbum de estúdio, intitulado “Vivaz”. O álbum de hip-hop é uma explosão de originalidade e soa autêntico mesmo após mais de uma década de seu lançamento.

Filipe Ret é um poeta, rapper, compositor e empresário carioca, que, na data de publicação desta análise, tem 38 anos de idade.

Seu segundo disco, o sucessor de “Numa Margem Distante” (2009) é o ponto principal que consagrou Ret como um dos rappers mais favoritos do Brasil, especialmente para os cariocas e fluminenses.

O disco retrata o cenário de 2012: desigualdade, hipocrisia, pré-julgamentos contra o gênero do rap e posicionamento político. Mais de 10 anos depois, o cenário parece ser o mesmo. Houve até regressão em alguns pontos apontados no disco.

O álbum descreve principalmente o preconceito contra o gênero do hip-hop, que de dez anos pra cá, ficou mais tolerante, mas que ainda é – por muitas vezes – vinculado à pobreza, marginalidade e “falta de talento”.

Ret ressalta a realidade vivida no epicentro de seu crescimento e formação social, a cidade do Rio de Janeiro. Em diversas faixas, ele cita áreas da cidade como a zona sul e a zona norte, fazendo um contraste entre a burguesia e o subúrbio, citando lugares como Laranjeiras.

O álbum é aberto com a excelente faixa “A Ronda”, que mostra nitidamente a influência estadunidense dos anos 2000 do rapper Eminem, que mesmo captando a referência, é algo que soa original e bem trabalhado. Inclusive, Ret soa até melhor que Eminem em alguns pontos. No rap, você nunca deve esperar por vocais afinados, seguindo uma linha melódica, você deve prestar atenção na mensagem. A impostação da voz de Ret é feita com muita maestria, o que o faz entregar vários flows com uma só voz, e isso é algo que vemos com pouca frequência no hip-hop. Na faixa, ele canta: “escrevo pra me sentir livre, irmão / por egoísmo, quase que por obrigação / pra dizer tudo bom, por desabafo também / aqui não basta ser do bem, tu tem que ser bom

Logo na segunda faixa, nos é apresentado um interlúdio muito bonito de ouvir e acompanhar, intitulado “VVZ” – abreviação para o termo “vivaz” -. Na faixa, Ret canta: “amigos, eu prefiro por enquanto / curtir uma transação diferente / vivaz / passe o show para todo o Brasil / vivaz, vivaz, vivaz”

A faixa termina com uma citação: “antes de eu morrer eu ainda quero ver um grande jardim, é / eu tenho minhas ideologias / tenho uma ideia bonita da vida, quero que meus filhos sabe / vejam um mundo melhor do que esse

E então entramos na espetacular faixa número 3: “Devaneios Retianos”. A faixa de 8 minutos é um deleite que nem todos no rap podem e conseguem fazer.

A faixa é uma enxurrada de indiretas que brinca com as palavras, e todas as referências são boas e fáceis de entender, além da composição ser muito bem escrita. Com um instrumental rico e cru, Ret canta: “não consigo ver ninguém como inimigo / ainda não encontrei alguém com altura pra isso / e se a carapuça serviu, normal / crianças sempre levam tudo pro lado pessoal”

Em outros trechos, ele continua: “a razão acovarda, a emoção encoraja / andar pra frente é a regra não importa o que haja / vou acender um incenso, pensar no que eu penso / enquanto me admiram em silêncio e me julgam em voz alta

O único defeito da faixa é que a transição para a segunda parte da música demora tanto que vai incentivar os ouvintes a pularem para a próxima sem antes ouvir o instrumental que finaliza a música, mas vale a escuta!

Em “Libertários Não Morrem”, o hip-hop dos anos 2000 é ainda mais evidente. Na faixa, Ret aborda uma voz mais “torcedora”, como se estivesse numa batalha de rap, o que faz total sentido. Na faixa, ele canta: “goste ou não de mim / quero mais uma dose / amor, eu sou assim / libertários não morrem / libertários não morrem

Na faixa “Neurórico de Guerra”, Ret irá te lembrar de “The Divine Feminine” (2016) de Mac Miller. Na faixa, ele responde a toda hipocrisia e pré-julgamento que foi apresentado durante o disco. Com elementos sutis de R&B, ele canta: “eles falam demais, mas falam em vão / o vivaz sabe que o silêncio tem sempre razão / é só entender, quem escuta não ouve / quem olha não vê / do submundo vou subverter / ou você intimida o mundo ou o mundo intimida você / ligado e perigoso / se eles são iluminados eu sou luminoso / pode dizer que meu sonho é inútil / os loucos românticos sempre riem por último

Ao se encaminhar para o final do disco, o encerramento é entregue pela faixa “Réus”. Seguindo a mesma pegada sonora das faixas anteriores, o encerramento é feito com muito bom gosto, onde Ret cospe novamente no chão onde seus críticos pisaram, é o que ele canta no trecho: “pra quem se diz nata, cuidado pra não coalhar / quem aperta o gatilho não diz que vai atirar / o monstro avança, quem tem um sonho não dança / sua revolta é ímpar, sua vingança é particular”.

Subestimar Filipe Ret, principalmente referente ao seu segundo disco, é um erro.

NOTA:

Escute “Vivaz” de Filipe Ret aqui:

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