Review: “ORQUÍDEAS” de Kali Uchis

“ORQUÍDEAS” de Kali Uchis
Gênero: R&B / Reggaeton / Pop
Gravadora: Geffen Records
Lançamento: 12 de janeiro de 2024

Uma escuta obrigatória: Em “ORQUÍDEAS”, Kali Uchis deixa até o que é pesado com leveza. A classe está em sua alma.

Em 12 de janeiro de 2024, Kali Uchis lançou seu quarto álbum de estúdio intitulado “ORQUÍDEAS”. A espera por seu novo disco era grande, principalmente para os entusiastas da música pop latina alternativa. Depois de seus três álbuns, a certeza do público que a acompanha era que viria um novo disco excelentíssimo (como de costume), o que de fato veio.

O novo disco, após a aclamação universal de todos os seus álbuns anteriores, foi uma aposta ao tradicional, o que não é algo ruim quando se é uma artista espetacular como Kali. O disco mantém o R&B de seus discos anteriores, mas desta vez com uma mescla entre R&B, reggaeton, pop e synth-pop.

Diferentemente de seus álbuns anteriores, Kali aposta em algo sonoramente mais mainstream, mas ainda com muita classe. O disco é bem comercial comparado a seus trabalhos anteriores, e por este motivo, este projeto pode não ser o favorito de seus seguidores mais tradicionais, porém atrairá um novo público para sua base de ouvintes, já que há colaborações com a estrela em ascensão Peso Pluma, a cantora colombiana Karol G e o cantor porto-riquenho Rauw Alejandro.

Por ser um disco mais comercial, pode haver de ocorrer uma troca entre seu público mais alternativo para um público mais eclético, que é o público geral.

O álbum começa com a faixa “¿Como Así?”, uma das mais divertidas do disco. Com uma atmosfera bem viajante e um pop sintetizado, Kali canta “oh, minha câmera em quatro / como se eu fosse a base da beleza / porque você costumava aparecer, com certeza, com certeza / você nunca queria sair / como assim? é assim, como assim? é assim / como assim? é assim, como assim? é assim / sim, em cada esquina / você nunca quer sair”. O refrão da faixa é completamente cativante e a voz aveludada de Kali deixa tudo ainda melhor.

Em “Igual Que Un Ángel”, colaboração com o cantor mexicano Peso Pluma, a faixa de 4 minutos e 20 segundos é um ponto interessante do disco, que pode te remeter a “Kiss Me More” (2021), colaboração entre Doja Cat e SZA. A faixa conta uma história com o lírico referenciando em terceira pessoa, em trechos como: “você tinha que ver como ela era igual a um anjo / o céu é a sua residência e ela não vai cair / eles simplesmente não conseguem alcançá-la, princesinha inalcançável / eles quebraram seu coração, mas ela nunca o perdeu, oh / (…) / uh, com essa atitude, ninguém a merece / aquele que a quiser, que reze / porque ela é luz, ai, nada a ver / não estava ao seu alcance, a garota é um anjo”. A sensação que a faixa passa é que há alguém sendo criticada, porém no final das contas alguém consegue enxergar seu valor real, e isso é de uma sensibilidade belíssima. Aliás, sabemos que Kali é uma artista muito observadora e atenta aos mínimos detalhes, o que deixa sua artisticidade ainda mais aguçada.

O espanglês em “Pensamientos Intrusivos” pode não agradar, mas Kali faz isso muito bem, por sinal. A faixa é uma das mais relacionáveis do disco, onde o lírico se destaca mais do que o arranjo nela e durante a escuta para esta análise, todos nós prestamos atenção na letra e a intenção da faixa é justamente essa. Sonoramente não há muito o que dizer, a proposta melódica se mantém a mesma da faixa anterior, um pop sintetizado com leveza e brilho, onde Kali canta: “você fez meu coração sangrar tão rápido quanto carros correndo / nós vamos dando voltas e voltas, vamos indo e voltando / eu não quero mais estar em lugar nenhum sem você / e embora a vida tenha partido meu coração mil vezes / eu te dei tudo, todo meu amor, fui fiel / peça-me a Lua e até o céu / eu irei (eu irei) / por favor, não me diga como viver a vida, porque / hoje pisamos na terra, amanhã ela cai em cima da gente / e é por isso que eu faço / o que me dá na telha”. A musicalidade na voz dela no refrão é deliciosa de escutar, onde ela canta: “a voz em minha mente (sente sua falta) / ele sempre fala sobre você (como eu te chamo) / pensamentos intrusivos hoje (ontem, agora mesmo e amanhã) / a voz em minha mente (quando acordo) / sempre falo sobre você (eu preciso de você) / pensamentos intrusivos hoje (ontem, agora mesmo e amanhã)”. Afinal, quem nunca?

Em “Diosa”, Kali entrega algo que pode nos remeter a “Water” (2023) de Tyla, não líricamente, mas em seu arranjo musical. A faixa é facilmente uma das melhores do disco. A percussão de instrumentos feitos com madeira é bastante familiar, e o lírico da música é ainda melhor: “deusa total, a rainha, a diva, a deusa / o universo me respalda, me dá tudo o que preciso / porque sou deusa total, a rainha, a diva, a deusa / o universo me respalda, me dá tudo o que preciso / sempre me procura e faz tudo o que eu digo / eu sou sua rainha, comigo ele é submisso / não precisa dizer, o nosso já se entendeu / dizem que você está enfeitiçado / sempre ao meu lado, dando o seu melhor / são oferendas, é o que eu mereço, sou um benefício, seu salão / quando estou feliz, é por isso que você fará qualquer coisa por mim / acho que estou apenas entediada, eu mereço tudo de melhor”.

Em “Te Mata”, temos uma faixa surpreendentemente tradicional e vintage. A faixa de raízes latina é uma sutil homenagem à cultura sul-americana que é pouco valorizada mundo afora, mas com um valor gigantesco. A dramaticidade da faixa faz quase uma alusão à trilha sonora de novelas mexicanas em cenas com muito drama e roteiro exagerado, o que também é apresentado no lírico: “pois isso já passou, essa não sou mais eu / se isso me faz má, então diabo é o que sou / nunca vai poder cortar minhas asas / e isso é o que te mata”.

Em “Young Rich & In Love” temos uma sonoridade familiar com seus discos anteriores, com um R&B contemporâneo inspirado no início dos anos 2000 para o gênero que pode ser um deleite para os fãs do gênero. A oscilação humorística do arranjo vai te carregando aos poucos com um conto apaixonado e excitante, onde ela canta suavemente: “em cima de você eu me sinto livre / em cima de você, direto para o pôr do sol / em cima de você, vamos ver até onde aguenta / como eu cavalgo, cavalgo, você sabe que eu cavalgo, cavalgo / sim, sim / épor isso que eu não me envolvo com qualquer um / sem dúvidas, eu sou a melhor que você já teve / bem, não há competição / nem no futuro nem no passado será como eu, e você sabe disso”.

Nas próximas faixas nos deparamos com “Munekita”, provavelmente a melhor faixa do disco, colaboração com o rapper dominicano El Alfa e JT, membra da dupla de hip-hop estadunidense City Girls. A faixa é uma diversão estranha que soa original, e o timbre do homem pode desagradar, mas dá uma identidade única à faixa. A batida pesada, característico da música urban que Kali gosta bastante de utilizar em seus projetos, é muito bem colocada aqui. Liricamente a faixa não há o que propor, as letras dizem por si só e uma impostação das vozes revelam o descompromisso lírico da música. Em certos trechos, eles citam: “como ela é gostosa, minha rainha / uf, corpão, uf, caramba / uf, caminha com uma atitude / está no seu mood, a amplitude / em carinha de anjo / uf, bonita, uf, que gostosa / uf, caminha com uma atitude / está no seu mood / cuidado, ela vai te dominar como um cachorro, au au”.

Em “Labios Mordidos”, colaboração com Karol G, temos um reggaeton padrão que melodicamente não há nada o que você não possa conhecer, liricamente muito menos. A expectativa da colaboração entre as duas era que fosse algo mais animador, mas é só mais um reggaeton entre tantos outros. A colaboração foi desperdiçada numa faixa que não funcionou direito.

O disco encerra-se com “Dame Beso // Muévete”, faixa que segue a mesma intenção de “Te Mata”, uma canção que serve para homenagear a cultura local da América do Sul, além de que soa como uma cantiga de beira de fogueira que pode causar uma certa familiaridade para todos os residentes da América do Sul, em especial, os colombianos.

NOTA:

Escute “ORQUÍDEAS” de Kali Uchis aqui:

Deixe um comentário