Review: “From Zero” de Linkin Park

“From Zero” de Linkin Park
Gênero: Rock alternativo / Hip-hop / Nu metal / Eletrônico / Pop/Rock
Gravadora: Warner Music
Data de lançamento: 15 de novembro de 2024

Em “From Zero”, Linkin Park promete recomeçar do zero com uma reciclagem de seus discos anteriores sem prestar tributo a Chester Bennington e o conceito de recomeço não é cumprido.

Na última sexta-feira (15), a banda de rock alternativo Linkin Park lançou seu oitavo álbum de estúdio intitulado “From Zero”. Este é o primeiro disco da banda após o falecimento do vocalista principal Chester Bennington, que tirou sua própria vida em julho de 2017.

Após 7 anos desde o tombo do grupo da banda mais popular de rock deste século, causada pela morte de Chester, a impressão é que não haveria mais Linkin Park, a sensação foi impressa pelos próprios fãs e pela indústria. O vácuo deixado no gênero foi tão simbólico que um possível retorno, mesmo que mediano, iria agitar um público órfão do rock alternativo com influências de hip-hop e um eletrônico sintetizado.

Em setembro deste ano, em entrevista exclusiva à revista estadunidense Billboard, Linkin Park anunciou seu retorno completamente reformulado, com uma nova co-vocalista e um novo baterista e co-produtor, Emily Armstrong e Colin Brittain, respectivamente. Leia nosso editorial sobre o retorno da banda aqui.

Na entrevista, eles relataram que o retorno de Linkin Park seria um recomeço e a expectativa gerada foi que o grupo poderia seguir um novo caminho que navegaria entre a identidade original da banda e daria um pontapé inicial para uma nova era que respeitasse a era de Chester, mas ao mesmo tempo viesse para preencher esta lacuna que o grupo deixou dentro do gênero. Acontece que o novo álbum de estúdio da banda não cumpre o conceito proposto.

O novo disco contém 11 faixas com uma duração de 32 minutos. O projeto é uma reciclagem de todos os seus álbuns anteriores e o “recomeço” é apenas uma forma de dizer que eles não tocariam no nome de Chester. O lírico do projeto tem a mesma conversa vaga com múltiplas interpretações, sem nenhum tributo ao que devastou a comunidade de fãs que eles possuem. Emily Armstrong tentou trazer a energia de Bennington ao novo disco para fazer jus à reciclagem e em alguns momentos ela acerta em cheio, mas tudo soa de muito mal gosto.

O disco inicia-se com uma intro intitulada “From Zero (Intro)” onde Mike Shinoda começa dizendo numa gravação de áudio curta: “do zero? tipo… do nada? ah, espera um pou-”. Logo, somos introduzidos ao single carro-chefe do álbum, “The Emptiness Machine”. Caso você tenha lido nossa linha editorial, pode ter visto nossa breve crítica em torno da faixa, na qual soa como um descarte de “The Hunting Party” (2014) que foi resgatada da gaveta empoeirada de Mike. O rock um pouco mais metalizado é como se fosse uma extensão do que já escutamos do grupo e não soa como um “recomeço” para um início de álbum.

A seguir, temos a surpreendentemente boa “Cut the Bridge” que não foge da bolha Soldier, mas que os ad-libs e os acompanhamentos elevam o nível da faixa. Certamente será um dos pontos altos do disco que pode fazer com que você retorne mais tarde. Seguido de uma bateria que acompanha o refrão liricamente, Mike e Emily recitam: “corte a ponte em que estamos (corte-a, corte-a, corte-a, corte-a, corte-a, corte-a) / até que ela se vá / sabote tudo / só para vê-la cair / corte a ponte em que estamos / corte-a, corte-a, corte-a”.

“Heavy Is the Crown” dá continuidade ao projeto e o arranjo parece ter sido tirado direto de “Meteora” (2004) enquanto Mike Shinoda corre para encaixar seus versos de rap numa estrofe que adapta a melodia para dar tempo às suas palavras. Emily com a voz rasgada na ponte dá um gosto à “Given Up” de “Minutes To Midnight” (2007), enquanto canta: “foi isso que você pediu…” durante uma nota sustentada que dura por volta de 15 segundos sem quebras.

Em “Over Each Other” temos um rock suave à moda de “One More Light” (2017). O solo é entregue à Emily e ela impressiona com uma voz com abordagem pop que vai desde vibratos à apogiaturas. Além de transições sutis da voz de peito pra voz de cabeça, ela parece estar mais firme vocalmente e o lírico ajuda ainda mais, onde ela cita: “mas você não me deixa respirar / e eu nunca estou certa / tudo o que somos é falar um sobre o outro / não há nada por baixo / é tudo uma perda de tempo / tudo o que somos é falar um do outro”. Melodicamente, a faixa não é nada que você já não tenha escutado deles antes.

Seguindo a tendência da indústria por faixas curtas, eles adaptam o disco para isso em “Casualty”. Emily mostra mais uma vez que pode entregar bons growls. Em tom de revolta, ela expressa: “deixe-me sair / me liberte / eu sei todos os segredos que você guarda / eu não serei sua vítima”.

“Overflow” é daquelas faixas como “Waiting For The End” e “Iridescent” que mudam o humor do disco positivamente. Mais uma vez, eles não saem do conhecido por aqui, mas a abordagem ecoante e uma atmosfera grave dá uma boa experiência ao ouvinte. Eles viajam nos versos quando dizem: “passando de um céu branco / para um buraco negro / passando da luz do Sol / para uma sombra / eu sei que não consigo fazer isso parar / eu sei que estou fora de controle / eu continuo enchendo / até transbordar”.

Em “Two Faced” eles ficam um ponto a coletarem um sample de “Nobody’s Listening” de “Meteora”. A trilha é uma das melhores faixas do disco. O arranjo instrumental segue o lírico de forma muito envolvente onde Emily canta um refrão que vai te pegar logo na primeira escuta: “duas caras / pegas no meio / pegas no meio / tarde demais, contando até zero / contando até zero / você deveria ter reconhecido / é tarde demais para escolher lados / duas caras, pegas no meio / pegas no meio”.

“Stained” é a faixa responsável para nos levar ao final do disco e por aqui tudo fica mais entediante. A atmosfera pesada não atinge mais como em faixas anteriores e meio que fará você querer pular para a próxima. O refrão pode te agradar, mas o restante talvez não. A música soa como uma transição e você pode descartá-la.

“IGYEIH” — ou “i’ll give you everything i have” — é mais um descarte não intencional de “The Hunting Party” que para um final de disco é aceitável. O refrão é agradável, mas previsível demais, até mesmo com a presença de Mike Shinoda. Emily aponta em um belting em alguns momentos para dar um gosto diferente, mas tudo soa o mesmo da mesma maneira, mesmo enquanto ela canta: “eu te dou tudo o que eu tenho / tudo que você me dá é sua feiura / você não é tão honesto quanto age / apenas um demônio com complexo de Deus / eu não sou sua inimiga / que você me faz parecer / e eu estou tão cansada desse pensamento positivo / se afogando, afundando / deixado sem nada / eu te dou tudo o que eu tenho”.

“Good Things Go” encerra o oitavo álbum de estúdio de Linkin Park. Foi preciso escutarmos todo o disco para chegarmos a melhor faixa de todo o álbum. A sintonia melódica e melodramática de Mike com Emily casa muito bem com notas retas em uníssono que junto do arranjo com as cordas te levam para uma sensação degustante de final de disco respeitável. Além da melodia, o lírico também acerta o alvo: “e eu te digo que te odeio quando não odeio / te empurro quando você chega muito perto / é difícil rir quando eu sou a piada / mas eu não posso fazer isso no meu… / só você poderia me salvar da minha falta de autocontrole / às vezes, coisas ruins tomam o lugar onde as coisas vão”.

Em “From Zero”, Linkin Park promete recomeçar do zero com uma reciclagem de seus discos anteriores sem prestar tributo a Chester Bennington e o conceito de recomeço não é cumprido.

NOTA:

Escute “From Zero” de Linkin Park aqui:

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