
Gênero: R&B / Hip-hop
Gravadora: RCA Records
Data de lançamento: 14 de junho de 2024
Em seu álbum de estreia, Normani arrebata toda a empolgação restante que havia sobre seu caminho como artista solo. “DOPAMINE” é uma coletânea de faixas desconexas sem identidade lírica e sonora.
A espera finalmente acabou. No último dia 14 de junho, Normani lançou seu tão aguardado álbum de estreia intitulado “DOPAMINE”. Após uma espera tão demorada, a desistência de seus admiradores aconteceu inevitavelmente e este lançamento não empolga em nenhum aspecto.
Após o hiato do grupo feminino Fifth Harmony em 2018, no qual ela era integrante, logo surgiram especulações de que ela iria engatar sua carreira solo, assim como Camila Cabello o fez na época.
Em agosto de 2019, ela lançou “Motivation”, que acendeu o interesse em quem não acompanhava o grupo e fez com que ela tivesse a atenção de um público que não estava tão vinculado ao trabalho do Fifth Harmony.
Ela continuou a lançar trabalhos avulsos e colaborações, como “Love Lies” (2019) com Khalid, “Dancing With A Stranger” (2019) com Sam Smith, “Diamonds” (2020) com Megan Thee Stallion e “New To You” (2022) com Calvin Harris. Esses lançamentos avulsos mantiveram a atenção voltada para ela, mas já faziam 4 anos desde o anúncio de seu álbum de estreia e seu lançamento não era sequer cogitado até o momento.
O tempo foi passando e a animação pela espera do disco foi esfriando. Em julho de 2021, ela lançou a faixa “Wild Side”, colaboração com a rapper estadunidense Cardi B, que, aos olhos do público, teve uma recepção mista e desde então a espera pelo seu disco de estreia foi se esfriando.
Em agosto de 2023, ela anunciou que não estaria mais vinculada ao gerenciamento da S10 Entertainment. E então assinou com a RCA Records, gravadora do grupo Sony Music.
Em 20 fevereiro de 2024, ela fez um “blackout” em suas redes sociais, evidenciando um anúncio iminente. No dia seguinte após o blackout, ela anunciou seu álbum de estreia e revelou que se chamaria “DOPAMINE” .
Em meio a um ano repleto de anúncios grandiosos e vibrantes como o de Beyoncé com “COWBOY CARTER”, Taylor Swift com “The Tortured Poets Department”, Ariana Grande com “eternal sunshine” e “HIT ME HARD AND SOFT” de Billie Eilish, não havia muito espaço para um lançamento de estreia que se esfriou após uma longa espera que desestimulou seu público.
O disco aborda o gênero de R&B e hip-hop, produzido por ela mesma, Bizness Boi, Tommy Brown, Dave Cappa, Jonah Christian, Rami Dawod, Mr. Franks, Jason Gill, Anton Göransson, Harv, Kuk Harrell, Jarami, Leather Jackett, June Nawakii, Nealante, Jacob Olofsson, Aaron Revelle, Tyler Rohn, Taylor Ross, Stargate, Starrah e Triangle Park.
O disco inicia-se com “Big Boy”, colaboração com a rapper estadunidense Starrah. Seguido de um trompete que repete as mesmas notas, um grave desenhado, bateria acompanhando em tempo médio em um ritmo de hip-hop, ela canta: “isso é coisa de garotão, costumava ouvir aquele André e aquele Big Boi / troco miúdo, transforma aqueles rostos miúdos em garotões / Blicky faz um cara se sentar como um garotão / troco miúdo, transforma aqueles rostos miúdos em garotões / Blicky faz um cara se sentar como um garotão / troco miúdo, transforma aqueles rostos miúdos em garotões / Blicky faz um cara se sentar como um garotão / troco miúdo, transforma aqueles rostos miúdos em garotões”. Passável.
A seguir temos “Still”, um R&B-hip-hop-ish nada original que pode envolver, mas de forma bem rasa. A moda de recolher samples de falas da comunidade queer para adicionar à faixa funciona bem, mas soa meio forçado. O sintetizador de trap e um piano sintetizado agudo tenta dar uma atmosfera noturna que pontua bem, porém o lírico não nos diz nada até agora: “naquela época, eles não me queriam / agora estou quente, não consigo mantê-los longe de mim / as luzes piscam, mexendo a bunda / com minhas garotas, gastando dinheiro (ainda) / ainda (ainda) / no clube de strip com os pés para cima / criada em Houston, nascido em NOLA / R&B, popstar, diva, eu estou / ainda subindo na seção (ainda) / em cima do sofá, ficando imprudente, sim / eu estou temperando como molho / em Christian Dior, eu sou uma bênção (está aceso) / muito ocupada vivendo minha vida, sim / eu nem vi sua mensagem (ainda) / estou com a fumaça, tipo oh / vadia, você pode ficar com meus ex-namorados (ainda)/ ainda sexy, ainda extra (ainda) / com minhas garotas se exibindo (ainda, ainda) / ainda sexy (Ainda, uh-huh), ainda extra (uh-huh) / com minhas garotas se exibindo (ainda)”.
A seguir, temos “All Yours”, melhor faixa de disco. A trilha de R&B sintetizada com um pop-synth-wave grave dá uma sensação extremamente arrepiante, e a impostação vocal encaixa perfeitamente com o arranjo pesado delicioso. O refrão onde ela harmoniza “hm, ah, hm, ah!” vai ficar na sua cabeça pelo resto da semana: “há algo em você que estou gostando / um pouco demais, é um pouco assustador / tem um pouco de mordida em você como se fosse de uma píton / tem um pouco de mordida em você como Tyson / sou um baixo, sou como pescar / nunca jogando para ser como um diamante / como você poderia colocar a cereja / neste bolo e torná-lo glacê / disse: isso é muito melhor, mm, como uma luz de incêndio / não me importo de mentir, vamos duas vezes como / vire, ouro, vire, pingando tudo nisso / esta gatinha tem o toque de Midas, você transforma isso em ouro / mm-ah, mm-ah / na sua cabeça como, mm-ah, mm-ah / pegue de volta como, mm-ah, mm-ah / eu sou apenas como, mm-ah, mm-ah / bem ali como, mm-ah, mm-ah / leve lá como, mm-ah, mm-ah / bem ali como, mm-ah, mm-ah / mm-ah-mm, mm-ah, mm-ah / na sua cabeça como, mm-ah, mm-ah / pegue de volta como, mm-ah, mm-ah / eu sou apenas como, mm-ah, mm-ah / bem ali como, mm-ah, mm-ah / leve lá como, mm-ah, mm-ah / bem ali como, mm-ah, mm-ah / mm-ah-mm, mm-ah, mm-ah / mm-ah, mm-ah”.
“Lights On” parece ter saído direto da gaveta de descartes de “Amala” (2018) de Doja Cat. A construção da produção é genérica, mas que pode agradar muitos, cantando com aquele tom de R&B soproso que desenha as notas sensualmente, ela diz: “faço você gozar rápido como um carro esportivo de 1998 / pisque duas vezes, já estará pegando fogo / quando eu cavalgar, algo como um jet ski / pode terminar só de olhar para mim / você sabe que tudo o que faço, faço parecer sexy / e sei que não é justo fazer você olhar / mas esta noite eu quero que você / me ame com as luzes acesas / você está lidando com uma estrela com uma expressão séria / venha, deixe-me mostrar esse amor / me ame com as luzes acesas / você está lidando com uma estrela, me dê rodadas de aplausos, você sabe que eu posso me apresentar”.
“Take My Time” simula um blues misturado com disco saturadíssimo que pode ser uma tentativa de sucesso que nem “Espresso” (2024) de Sabrina Carpenter, mas que soa confuso no meio da trilha do disco. A produção de Tommy Brown e os demais citados que estão envolvidos é tão enlatada que chega a ser embaraçoso. Diante de instrumentos sintetizados, ela canta: “porque eu quero que você leve o meu tempo / leve o meu tempo, leve o meu tempo / oh, querido / só não leve para sempre / porque eu quero que você leve o meu tempo / todo o meu tempo, leve o meu tempo / oh, querido / só não leve para sempre”.
“Insomnia” é um devaneio do R&B que simula uma experiência de agonia que desabafa sobre um relacionamento complicado, é o que ela relata nos versos: “pensei que eu estava ficando louca / mas estou melhor ultimamente / eu finalmente parei as lágrimas de correr / e eu sei que isso deve contar para alguma coisa / mas quando você decide me bater / eu relembro toda a história / e se não é por causa do uísque / eu me pergunto se você realmente sente minha falta / oh, você tem algum dispositivo que diz quando estou bem / porque este é o exato momento em que você atingiu minha linha / eu me pergunto como você sabe que eu estou seguindo em frente / porque parece que você realmente ama tornar essa merda impossível / eu queria que você não me ligasse / tem tanta coisa que me lembra / porque toda vez que você me liga / está me dando insônia (eu gostaria que você não tivesse) / eu gostaria que você não me ligasse, sim (sim, eu gostaria que você não ligasse) / há tanta coisa que me lembra (eu gostaria que você não lembrasse) / porque toda vez que você me liga (me liga, eu gostaria que você não ligasse) / está me dando insônia”.
“Candy Paint”, uma das mais intragáveis de absorver, que serviu como single do disco, é uma bagunça sem identidade confusa que nem para promover o projeto como single prestou. Diante do refrão “mexo, faço o tick, tick, tick, balançando / mexo, faço o tick, tick, tick, tick, balançando / me mexendo, eu poderia transformar o nada em alguma coisa / pulando, aço o tick, tick, tick, balançando”, ela canta com um instrumental desconexo com o restante do disco, que nem para coreografia vai animar. Sinceramente? Podemos pular para a próxima…
“Grip” parece ser uma continuação da faixa anterior, mas com menos elementos, seguindo o mesmo arranjo das faixas anteriores, que, a partir de agora, começa a cair no momento em que pensamos “espero que isso acabe logo”. Ela continua sem nada a dizer, além de futilidades, com um R&B que tenta ser palatável: “cinco, quatro, tiki-tiki / vibrando pela cidade rolando pegajosa, pegajosa / voltando lá pra fora, ficou animado, animado / bonita e tenho algumas vadias comigo, / eu consigo o que quero, me dê / rosto bonito, coxas grossas e meus quadris não mentem / do jeito que te hipnotizei, me sinto como a Biggie, Biggie”.
E então temos “1:59”, colaboração com o rapper estadunidense Gunna, que serviu como single carro-chefe do disco. A faixa foi analisada separadamente e você pode ler a análise dela AQUI.
“Distance” se mantém na proposta de R&B descolado, com a voz soprosa e notas desenhadas, que acompanhado de um lírico que tenta dizer algo, sensualiza: “preciso te amar de longe / cansada de lutar por atenção / quanto você realmente escuta? / quando preciso de você, você sempre está ausente / preciso te amar de longe / não estou pedindo permissão / tentei de tudo / você não pode colocar tudo em mim de longe / você disse que seria minha paz / e se eu lutar por você, você lutaria por mim? / agora tudo o que fazemos é discordar / não sei onde erramos / isso não é para mim”.
“Tantrums”, colaboração com o cantor britânico James Blake eleva a experiência de escutar o disco na reta final. Para adaptar o timbre pesado e melancólica de James, o arranjo também muda e acerta. Com a voz cheia de fry e carregada por melismas e falsetes, ele canta com poucos elementos melódicos: “se realmente era o que você disse que era / o que você disse que seria / você teria segurado em mim / eu sei que você teria segurado em mim / evidência, evidência, evidência / eu, eu só posso ver crescer por um tempo, / mentiras sobre mentiras sobre mentiras sobre mentiras / você deve não saber / tudo o que você tinha que fazer era perguntar / como você pode melhorar? / tudo o que você tinha que fazer era perguntar / eu me sinto tão solitário”.
“Little Secrets” troca a abordagem para algo mais agressivo. O refrão que vai te pegar vai fazer você cantar junto enquanto a música vai crescendo sutilmente. A abordagem lírica também é intrigante que qualquer fofoqueiro de plantão vai adorar, que nem as canções de R&B do final dos anos 90 e início dos anos 2000 costumava dialogar: “dizem que você tem uma nova garota por perto / mas eu posso conseguir se eu quiser, automaticamente / mas eu não quero que ela possa ter isso / eu não posso sentir falta se eu já tive / sim, ouvi dizer que ela anda falando mal / prometo, garota, você não quer confusão / estalo os dedos, faço acontecer / eu posso ter se eu quiser, como mágica / garoto, me deixe subir, me deixe subir, me deixe subir, me deixe subir / me deixe subir, me deixe roubar a cena da sua vadia / garoto, me deixe subir, me deixe subir, me deixe subir, me deixe subir / me deixe subir, me deixe melhorar sua merda / agora me diga, quem você conhece que brilha assim? (quem?) / quem você conhece que está sentado assim? (quem?) / quem você conhece que consegue assim? (quem?) / mexendo com você assim (quem?) / garoto, você sabe que gosta disso (quem?) / garoto, você sabe que ele gosta disso (quem?)”.
E então temos “Wild Side”, colaboração com a rapper nova-iorquina Cardi B, que encerra o disco. Uma das melhores faixas do disco, a sensualidade é bem abordada aqui, de forma natural e com uma elegância difícil de executar no R&B, apesar de muitos tentarem. O lírico é envolvente em todos os sentidos. A adição de Cardi B traz uma escrachada que contrasta com a aveludez de Normani. Enquanto Normani diz “não podemos simplesmente continuar falando sobre isso / pensamos nisso com muita frequência / não podemos simplesmente ser comedidos com isso / quero ficar selvagem / me leve pra dar uma volta, garoto / me mostre o seu lado selvagem, garoto / sei que já faz um tempo, garoto / quero ficar selvagem”, Cardi diz: “olha, me diz, me vire / me trate como um relógio, acabe comigo / no chão da cozinha, bem em cima daquela toalha / esse p** é meu e eu quero ele agora! / me diga como você quer / me ponha de costas, de barriga pra baixo / amor, me deixe soprar como se fosse um trompete / posso fazer de tudo / provavelmente posso sugar uma melancia através de um canudinho / acredite em mim, dia sim, dia não, nova peruca, novo cabelo / vem me tirar de dentro desse Mugler / estou te esperando em uma lingerie / soque nessa b***** como se estivesse jogando uma bomba / boom! usando nada além de um roupão na sua casa / quero colocar na sua boca esses lindos dedos dos pés pintados de rosa / mando nudes para o seu telefone enquanto você está trabalhando / garoto, você tem que ver essa p**** pessoalmente, acredite em mim”.
Em seu álbum de estreia, Normani arrebata toda a empolgação restante que havia sobre seu caminho como artista solo. “DOPAMINE” é uma coletânea de faixas desconexas sem identidade lírica e sonora.
NOTA:

Escute “DOPAMINE” de Normani aqui: