Review: “.mp3” de Emilia

Em “.mp3”, Emilia traz o visual belo dos anos 2000 que muitos adoram, mas sonoramente tem seus altos e baixos

Em novembro de 2023, a artista argentina Emilia lançou seu segundo álbum de estúdio intitulado “.mp3”. O disco é inspirado na música estadunidense dos anos 2000, onde era predominante o R&B, pop e hip-hop. Emilia mencionou algumas artistas femininas marcantes do período como inspiração, como: Shakira, Thalía, P!nk, Rihanna, Beyoncé e Missy Elliott.

Visualmente, o projeto faz jus à proposta que ele se propõe. Começando pela capa do álbum, é uma representação contemporânea muito bem feita do que seria a estética dos anos 2000, como cores vibrantes, jeans cintura baixa e celulares característicos da época como o icônico Motorola V3.

O disco é bastante moderno, apesar de haver ajustes e preenchimentos que não eram possíveis com o limite da tecnologia nos álbuns dos anos 2000. O período exato que o disco se inspira é entre os anos 2008 a 2010, onde o pop deixou de se tornar com instrumentos mais crus e passou a ser mais sintetizado, o que fez surgir o eletropop anos depois em 2011, 2012 e 2013. 

A voz de Emilia é majoritariamente com efeitos no disco, o que nos atrapalha em distinguir como a voz real dela pode soar. O timbre dela apresenta uma certa rouquidão e carrega um registro mais grave. 

O álbum é em sua maior parte pop, com elementos sutis de R&B e bastante eletropop. O que nos incomoda aqui é a ausência da voz pura de Emilia, e os efeitos na voz foram adicionados quase durante todo o período de 33 minutos de escuta.

O nome do disco é uma referência ao tipo de arquivo que é utilizado para caracterizar arquivos de áudio, como MP3 e M4A. No surgimento dos celulares digitais, era comum vermos em nossa biblioteca de música a extensão do arquivo “.mp3” nas faixas que costumávamos ouvir. A referência do nome do disco é exatamente à essa nostalgia desse tempo da música que quem viveu deve se lembrar bem. 

A sensação de escutar o álbum é exatamente a qual se propõe: músicas pop marcantes do período. 

O disco aborda liricamente sobre independência, feminilidade e entrega uma enxurrada de easter eggs do tempo da música dos anos 2000 que para bons entendedores, meia palavra basta. 

O disco inicia-se com a faixa “Facts.mp3” com um pop super preenchedor, ideal para casas de festas e boates. A faixa é descontraída, fala sobre dinheiro e ostentação. Liricamente, não há nada a propor além de diversão seguido de um pop sintetizado.

Em “Jagger.mp3” o trap é explícito. A voz de Emilia mantém o mesmo tom da anterior, mas com versos mais acelerados, semelhante a um rap e há elementos de urban que dão ainda mais peso à atmosfera da faixa. Liricamente, ela segue a mesma linha da faixa de abertura: autoconfiança e ostentação.

Nas faixas seguintes, temos “La_Original.mp3”, colaboração com a também cantora argentina TINI, a melhor faixa do disco. A faixa de apenas 2 minutos e 20 segundos é um deleite que sua duração vai deixar um gostinho de quero mais. A canção pode te remeter a pontos de “RENAISSANCE” (2022) de Beyoncé, devido ao gênero pop/disco abordado nela. A música é tão chiclete que não vai sair da sua cabeça o refrão “porque ahora que nadie nos ve, eh-eh-eh-eh-eh / vamo’ hacerlo profesional, ah-ah-ah-ah-ah / nos vamos a desconocer, hoy vos vas a conocer / la versión original, ah-ah-ah-ah-ah”. Esta é uma escuta obrigatória, sem dúvidas.

Em “GTA.mp3” a intenção sonora é a mesma de “La_Original.mp3”, desta vez fazendo alusão à franquia de jogos Grand Theft Auto da desenvolvedora estadunidense Rockstar Games, jogo triple AAA de mundo aberto. Na faixa, ela cita: “fugimos como no GTA / e vamos para o hotel cinco estrelas / na suíte presidencial / eu tiro minha camiseta para você / você não sai da minha cabeça / estou olhando para você enquanto ela te beija / te toco em segredo por baixo da mesa / eu tenho um show privado pra te dar se você estiver interessado”. 

Em “No_Se_Ve.mp3”, colaboração com a artista brasileira Ludmilla e o produtor, compositor e engenheiro de som argentino ZECCA, há uma mescla muito respeitosa de pop com funk e a união de culturas funcionou extremamente bem aqui. O talento de Ludmilla sempre é bem-vindo onde quer que seja. A faixa é muito sensual e além de tudo divertidíssima. O trecho de Ludmilla encaixa bem também, onde ela canta: “dá calor quando chega perto de mim / que vontade de sentar em você / faz aquele jeito do macetin / mírame en HD / por trás da fumaça, tu sarra em mim / tomamos três goles de prazer / olha nos olhos, olha nos olhos, ah”.

As faixas que estão no final do disco como “Ojitos_Verdes.mp3” e “Guerrero.mp3” destoam um pouco do resto do disco ao tentarem emplacar uma balada pop que todo mundo pop geralmente tem. A qualidade das faixas são mais genéricas do que o normal, o que nos faz questionar se era de fato necessário um contraste desses. Para encerrar o álbum e iniciá-lo, consideramos que não tiveram boas escolhas, apesar do disco no geral ser bem divertido de ouvir.

NOTA:

Escute “.mp3” de Emilia aqui: