Review: “C,XOXO” de Camila Cabello

“C,XOXO” de Camila Cabello
Gênero: Pop
Gravadora: Interscope Records
Data de lançamento: 28 de junho de 2024

Indo na contramão dos lançamentos do ano, Camila Cabello decide desgraçar o fortúnio com seu novo álbum “C,XOXO”, que serviu apenas para nos lembrar o quanto ainda temos dinheiro sendo desperdiçado com entulho.

No último dia 28, Camila Cabello lançou seu quarto álbum de estúdio intitulado “C,XOXO”. Após o azedo e podre “Familia” (2022), não havia nenhuma expectativa positiva para seu próximo disco.

Desde o fim da girlgroup Fifth Harmony, de fato, ela foi a que mais teve destaque na carreira solo, porém a bordo da canoa criativa de outros artistas, visto que desde seu álbum de estreia “CAMILA” (2018) já havia alegações de “roubo” de identidade visual, conceitos e falta de originalidade pelos samples em excesso, que iam desde Ed Sheeran à Cyndi Lauper

O novo disco estende o repertório de Cabello, deixando ainda mais evidente o quanto ela não é uma artista séria e compromissada. A falta de interesse do público em seu trabalho ficou cada vez mais nítida durante os últimos anos, visto que a estreia de seus álbuns no ranking semanal da revista estadunidense Billboard prova que o consumo de seus projetos tem sido expressivamente menor.

Na faixa que serviu como single carro-chefe do álbum intitulada “I LUV IT”, uma colaboração desastrosa com o rapper estadunidense Playboi Carti (leia a review AQUI), a impressão reforçada é de que ela vem se provando cada vez mais uma artista decadente e sem talento artístico nenhum, com exceção de uma voz que às vezes acerta na afinação se estiver num dia bom e com as aulas de canto em dia.

Enquanto escutávamos o disco, a sensação que tínhamos é que tudo parecia ser muito desconexo e durante o álbum com 14 faixas com duração de apenas 32 minutos, nada nos levou a lugar nenhum. As faixas são bagunçadas, falseiam um conceito melódico que falha amargamente em entregar aquilo que se propõe. Até as faixas que foram feitas para ser comerciais soam no fundo do poço.

Não sabemos ao certo se o problema é a falta de talento ou a preguiça em evoluir como artista, mas uma coisa é certa: sua discografia é um dos maiores desastres até hoje, e não falamos isso com felicidade, visto que tivemos que escutar para que você não precise.

O álbum inicia-se com o single carro-chefe do disco, “I LUV IT”, colaboração com Playboi Carti, que já analisamos e você pode ler a análise/review AQUI.

A seguir, temos “Chanel No. 5”, que tudo é ruim e nada parece funcionar. A letra não diz nada relevante e melodicamente ela mistura alguns sintetizadores, que, acompanhados de sua voz que simula um canto de hip-hop, não abraça o ouvinte em nenhum aspecto. Ela canta: “me toque como se fosse um origami / mágica e real como se fosse o Murakami / unhas vermelhas lascadas, sou wabi-sabi / sou eu quem parto corações, ninguém me conquistou ainda / faço você ficar sem palavras como se fosse um novo tipo de shibari / sutil e complexa como se fosse um umami / sou eu que escolho, como se fosse um omakase / sou um cavalo selvagem e ninguém me conquistou ainda”.

Logo na terceira faixa somos inseridos num interlúdio um pouco interessante de 55 segundos, intitulado “C,XOXO”. A atmosfera de transição é bem projetada, mas é um acerto breve dentro do disco.

E então somos apresentados à “HE KNOWS”, colaboração com o artista Lil Nas X. É facilmente a melhor faixa do disco, e o crédito vai para Lil Nas X que adiciona a sensualidade, encaixando bem com a proposta da faixa. O wave pop é delicioso, e até Cabello mostra fazer mais sentido aqui: “ela é uma provocadora / especialista na pista de dança / essa semana foi uma m****, então sexta com certeza (com certeza, sim) / fale pras garotas que vamos fazer um detox / faça um inferno na vida dele, sim / faça um inferno na vida desses garotos, sim / ela faz isso tão bem / eu mesma faço isso / cigarros, um colarzinho de bijus nos meus quadris / uma borboleta no meu pulso / coloque suas mãos em mim assim / um brilho forte, da cabeça aos pés / linda, ela passou gloss labial / dou um beijo nele, bem suavemente / provoco um pouco depois tiro ele de cima de mim / eu acho que ele sabe (isso não é um show) / quando eu brinco assim com ele / quando eu falo assim pra ele / quando eu faço as coisas do meu jeito assim / eu acho que ele sabe (isso não é um show) / quando eu brinco assim com ele assim / quando eu falo assim pra ele assim / que logo, logo ele vai voltar”. Lil Nas X explicita: “ele g**** no meu bustiê / igual sorvete de creme, enquanto a Ashanti tocava na Mercedes / deixa cair em mim como se fosse chuva / ele já estragou meu painel, então eu tô de joelhos / pensando: querido Senhor, por favor, ore por mim / tenha misericórdia de mim / diga, garoto, o que você quer / eu te dou aquele / brá, pow, g*** na minha boca / mete em mim tipo, uh, e mais uma vez / ah, isso, isso / papo reto, vou pegar a alma dele (por completo) / eu vou roubar ele dos contatinhos (beleza) / papo reto, eu acho que ele sabe”.

“Twentysomethings” tenta ser algo e não é nada. Diante de um violão genérico, ela tenta resgatar a mesma energia de “Consequences” de “CAMILA” e não é a mesma coisa. Fica meio incerto se ela fala sobre o ex-namorado, também cantor canadense Shawn Mendes em trechos como: “não sei em que pé estou com você / estou confusa / preciso de mais de você, essa é a verdade / mais de você / da última vez, tive uma péssima experiência / te odiei / mas entendo por que tentei com você / o motivo era você / e você ri quando eu digo: você é um babaca às vezes / a gente pode ficar bem, a gente pode ficar bem / e eu rio quando você diz que sou uma vaca às vezes / provavelmente não vamos dar certo, mas, querido, talvez sim / parece que estou vivendo no limbo / não sou sua nem minha, estou em algum lugar no meio, tudo bem / você é tão alto que me faz sentir ainda menor, querido / só quero ter uma boa noite, transar a vida toda / quero que você me abrace forte, diga que estamos bem / não quero você no telefone, me sinto melhor sozinha / lembro que já sou adulta, posso fazer o que eu quiser, sim”.

“Dade County Dreaming”, colaboração com JT do duo City Girls é um dos pontos altos do disco. A energia da Flórida do duo dá uma elevada relevante à faixa, diante de uma produção pesada e grave, elas cantam: “sonhando com Dade County / com a cabeça pra fora do teto solar, as garotas estão gritando / de volta aos esquemas / com certeza você sabe como agradar, mas adora ser agradado / pode nos culpar? / festejando na cidade que nos criou / festejando como se tivesse esquecido que sou famosa / rebolo em cima dele como se fosse uma qualquer”.

Somos inseridos em mais um interlúdio que não faz nenhum sentido, onde BLP Kosher, rapper estadunidense declara: “eu tava passando por, tipo, uma desilusão amorosa, e eu, também / meu amigo que tava, tipo, sempre comigo e tal, ele tinha falecido / e eu tava ouvindo a Camila, a música dela me ajudou a superar / eu acho que essa foi a primeira música, tipo, álbum, que eu realmente, tipo / derramei lágrimas enquanto tocava, tipo / porque a música, tipo, ela era, tipo / a Camila, o álbum da Camila era tão, tipo / é uma honra tá aqui e poder, tipo, sabe / falar de verdade sobre essa p****”. Você quis dizer composições de terceiros, não é?

As duas colaborações com o rapper Drake são tão terríveis que nem vale análise, utilizou duas faixas, sendo uma delas apenas o convidado cantando, sem nenhuma coesão com o restante do disco. A escolha de produção nem merece ser mencionada…

“DREAM-GIRLS” traz as raízes da música hispânica, misturado com reggaeton, que faz sentido, devido à naturalidade cubana de Cabello e o refrão pode cativar: “era a Keisha / era a Sonia / era a Tanya / era a Monique / era a Niecy / era a Keke / agora você a vê aos vinte e seis anos, tudo que pode dizer é / ah, não / e eu acho que ela sabe que é demais / é, a mina ao meu lado é demais”. Vale sua escuta.

Mais um interlúdio intitulado “305tilidie” que não faz nenhum sentido dentro do projeto… pouparemos comentários.

“B.O.A.T” resgata a proposta da faixa “Twentysomethings” e seu relacionamento com Shawn Mendes volta a ser palco de uma melancolia dramática e forçada, diante de um arranjo com piano lento. Ela canta tão fora de ritmo que escancara que talvez a produção não tenha sido feita em conjunto com a construção do lírico. Nos trechos onde citam Mendes, ela diz: “deitada na cama, revivendo as merdas que você disse / já se arrependeu de bagunçar a minha cabeça? / porque eu tenho pensado / você nunca me deu paz de espírito, então tive que me dar eu mesma / você nunca acha que é o momento certo até eu estar bem com outro alguém / você provavelmente me teria pra sempre se não precisasse de ajuda / eu queria, queria que você dissesse: ‘você estava certa’ / eue eu te quero quando você não é minha / e justo quando penso que sei viver sem você, esqueço por que tento / ‘você estava certa’ (estamos no hotel, motel, Holiday Inn) / e eu estraguei tudo, amor, pisei na bola (estamos no hotel, motel, Holiday Inn) / e justo quando penso que poderia me apaixonar sem você, esqueço por que tento / ‘você foi a melhor de todos os tempos’”.

“pretty when i cry” continua com o relato de seu relacionamento com Shawn. Desta vez, o pop alegre e envolvente toma conta, como se ela tivesse tentando se convencer de que é “linda quando chora”, é o que ela diz no refrão: “pelo menos eu sou bonita quando choro / pena que você não me quer / bonita nesta luz / glitter caindo de mim / olhos cor-de-rosa e azuis, diamantes / olha o que você perdeu para mim / ainda sou bonita quando choro / bonita quando choro”.

“June Gloom” é a faixa responsável pelo ato de encerramento do disco e parece ser um descarte de tanto Lana Del Rey como de Miley Cyrus ou Taylor Swift que soa como uma 3 em 1 e é ruim em todos os aspectos. Seguido de um teclado sintetizado agudo que vai acompanhando o lírico desajustado, ela canta: “ela fica molhadinha assim pra você, querido? / fala com você em poemas e canções, hein, querido? / um beijinho te deixa tonto? / é mesmo amor se não for tão louco? / ela se move assim para você, querido? / brincando comigo agora, você sabe quando eu quero / não vou mentir, você é o melhor, icônico / sei que não não encontrei nada melhor, mas espero que você encontre”.

Indo na contramão dos lançamentos do ano, Camila Cabello decide desgraçar o fortúnio com seu novo álbum “C,XOXO”, que serviu apenas para nos lembrar o quanto ainda temos dinheiro sendo desperdiçado com entulho.

NOTA:

Escute “C,XOXO” de Camila Cabello aqui:

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