
Gênero: Folk / Americana / Country-folk
Gravadora: Interscope Records
Lançamento: 19 de março de 2021
Em “Chemtrails over the Country Club”, Lana Del Rey atribui ainda mais valor a seu catálogo e ressalta mais uma vez como sua composição lírica é esplêndida.
Em março de 2021, Lana Del Rey lançou seu sétimo álbum de estúdio intitulado “Chemtrails Over The Country Club”. O disco aposta no gênero folk, americana e country. Sucedindo “Norman Fucking Rockwell!”, o álbum é uma evolução direta de seu aclamadíssimo antecessor.
Após 2 anos desde o último disco, Lana retornou com um pouco mais de leveza e cuidado. O sétimo projeto da artista é um conto de histórias pessoais e fantasiosas que certamente será relacionável para muitos ouvintes. Com a produção do produtor e compositor Jack Antonoff – parceiro de longa data de Lana -, a obra é carregada nos mínimos detalhes, o que é característico de Jack.
O álbum inicia-se com o single “White Dress”, que para uma introdução ao disco de 11 faixas, a escolha foi certeira. A canção de duração de 5 minutos e 34 segundos é um chamado para o ouvinte escutar uma história seguido de um arranjo bem organizado e nada poluente, dando ênfase ao lírico, onde Lana canta com a voz suave e falsetada: “quando eu era uma garçonete / trabalhando no turno da noite / você era o meu homem / senti como se eu tivesse conseguido / na Conferência de Homens da Indústria da Música / em Orlando, eu tinha apenas dezenove anos / na Conferência de Homens da Indústria da Música / eu só mencionei porque foi uma cena tão marcante / e eu me senti vista”. A forma de contar histórias na faixa mostra a sensibilidade para compor que ela nasceu com.
A seguir, temos a faixa-título “Chemtrails Over The Country Club”, que é uma declaração de amor sensível e escrita de maneira profunda e poética, que, até agora, melodicamente, tem seguido o mesmo rumo da faixa de abertura. Damos destaque ao que ela tem a dizer: “estou fugindo com você, meu doce amor / não há nada de errado em contemplar Deus / sob os rastros de fumaça acima do clube de campo / usamos nossas joias na piscina / eu e minha irmã apenas nos divertindo / sob os rastros de fumaça acima do clube de campo”. A atmosfera que a faixa proporciona é quase uma fantasia onde o cenário idealizado é preto no branco com uma paixão intrigante.
Na faixa seguinte, temos “Tulsa Jesus Freak”, uma faixa folk ansiosa que navega entre o cristianismo e o prazer carnal da “vida mundana”. Há uma confusão de valores que nos faz questionar a estabilidade mental e emocional dela, e esta questão é deixada no trecho: “que você deveria ficar bem próximo de Jesus / mantenha essa garrafa em suas mãos, meu homem / encontre o seu caminho de volta para a minha cama novamente / me cante como se eu fosse um hino bíblico”.
Em “Let Me Love You Like A Woman”, temos uma das faixas mais rítmicas do disco. A faixa pode soar mais “pop” e chegar mais perto de onde ela estava com seus primeiros discos. Como todas as faixas citadas do disco até o momento, o lírico é o que se destaca: “então, deixe-me te amar como uma mulher / deixe-me te abraçar como um bebê / deixe-me brilhar como um diamante / deixe-me ser quem eu devo ser”.
“Wild At Heart” tem uma atmosfera mais tradicional que estamos acostumados a escutar de Lana até agora. Cheio de preenchimentos vocais de coral para dar ainda mais força a uma faixa que liricamente há algo importante a ser dito, onde ela canta: “eu te amo muito como várias bolinhas / você está me matando mais / do que potes de café e cafeteiras / com cada gota que eu derramo / e se eu tivesse que fazer tudo de novo / eu faria, porque, amor, no final / isso me trouxe aqui até você / (…) / o que você faria se eu não cantasse mais para eles? / como se você ouvisse que eu estava fora nos bares bebendo Jack e Coca-Cola / enlouquecendo por qualquer um que quisesse ouvir minhas histórias, querido? / de vez em quando, penso em ir embora / mas você sabe que eu nunca vou, só porque você me mantém acreditando”.
Em “Dark But Just A Game”, o gênero americana fica mais evidente. A faixa conta com instrumentos característicos do gênero que dão mais vida em relação às outras faixas do disco. A voz de Lana toma mais projeção num arranjo bem construído, onde ela canta: “continuamos mudando o tempo todo / as melhores pessoas enlouqueceram / então eu não vou mudar / eu vou continuar a mesma / não sobrou nenhuma rosa nas vinhas / nem sequer quero tudo o que era meu / muito menos a fama / é sombrio, mas é apenas um jogo / é sombrio, mas é apenas um jogo”.
Em “Not All Who Wonder Are Lost” consideramos um dos pontos mais baixos do álbum, melodicamente a faixa não se destaca e liricamente é a única coisa que pode realmente te prender pela curiosidade de entender melhor a história que está sendo retratada, onde ela recita: “você diz que você tem meu nome cravado em você como uma tatuagem / puxando cadeiras, abrindo portas, olhe para você / você fala com Deus como eu falo / eu acho que você sabe os mesmos segredos que eu / estou falando sobre / (…) / você diz que você tem meu nome cravado em você como uma tatuagem / puxando cadeiras, abrindo portas, olhe para você / você fala com as pessoas como eu falo / eu acho que você sabe as mesmas coisas que eu sei”.
Em “Breaking Up Slowly”, colaboração com a cantora country e americana estadunidense Nikki Lane, temos uma das faixas mais diversas melodicamente do disco. A faixa de menos de 3 minutos encaixa bem na obra e nos traz um conforto num momento onde o término de um relacionamento pode tornar a vida de quem está passando por isso em algo sem sentido, e a colaboração das duas encaixa perfeitamente bem com os trechos, onde ambas cantam: “terminar lentamente é uma coisa difícil de fazer / eu amo apenas você, mas isso está me deixando triste / então não me mande flores como você sempre faz / é difícil estar sozinha, mas é a coisa certa”.
Temos a penúltima faixa do disco, “Dance Till We Die”, onde agora, Lana relata o lírico em primeira pessoa, citando situações pelas quais ela mesma viveu, e para alguém tão reservada quanto ela, certamente será uma faixa que seus seguidores mais fiéis vão prestar atenção. A produção americana se mantém presente e ela canta: “então, voltamos no meio da noite / (nós continuamos dançando, amor) / para o dois passos de Louisiana, alto e brilhante/ (nós continuamos nos movendo, amor) / e não vamos dizer quando, não vamos perguntar por que / nós não vamos parar de dançar até morrermos / continuaremos caminhando no lado ensolarado / e não vamos parar de dançar até morrermos”.
E por fim, o disco é encerrado com a agridoce “For Free”, colaboração com a cantora e compositora Zella Day e com a também cantora e compositora Weyes Blood. Para um ato de encerramento, a faixa pode não agradar a todos, mas consideramos um encerramento ok e certamente não é um dos melhores do repertório de Lana, mas pouparemos comentários por aqui.
No geral, o disco é refrescante e uma viagem de histórias de vida que mostram também seu lado nostálgico e complexo de momentos que a vida pode nos proporcionar.
NOTA:

Escute “Chemtrails Over The Country Club” de Lana Del Rey aqui: