Review: “WOMAN’S WORLD” de Katy Perry

Katy Perry se une à Camila Cabello para desgraçar o fortúnio de bons lançamentos deste ano. Uma música produzida por Dr. Luke que ressalta a força feminina é uma piada de mal gosto. “WOMAN’S WORLD” é um insulto que não precisávamos.

4 anos desde o neutro “Smile” (2020), Katy Perry está de volta com o single carro-chefe de seu sexto álbum de estúdio “143”, previsto para sair em setembro, intitulado como “WOMAN’S WORLD”. 

Após ter se tornado mãe de Daisy Dove Bloom com o ator britânico Orlando Bloom em 2020, a vida de Katy tomou outro rumo. “Smile” foi um disco que celebrava sua maternidade que às vezes deslizava numa desconexão de coerência com sua vida pessoal, como se o descompromisso com sua arte houvesse continuado.

Em algumas ocasiões, Perry havia dito que não tinha interesse em lançar novas músicas e que estava focada em cuidar de sua filha e família.

Desde “Witness” (2017), ela enfrentou um declínio imensurável em sua carreira que devastou seus fãs, incluindo ela própria. O sucesso comercial gigantesco de “Teenage Dream” (2010) e “Prism” (2013) não foi sucedido por “Witness”. Em “Smile”, o declínio ficou ainda mais evidente, visto que o disco estreou em 5° lugar no ranking semanal de discos da revista estadunidense Billboard, com 50 mil unidades vendidas. Comparado à “Teenage Dream” (192 mil) e “Prism” (286 mil), a baixa adesão a seus trabalhos era evidente.

2024 tem sido um ano e tanto para os lançamentos até agora, mas todas as superestrelas do momento já deixaram seu projeto na linha do tempo deste ano, como Beyoncé com “COWBOY CARTER”, Taylor Swift com “The Tortured Poets Department”, Ariana Grande com “eternal sunshine” e Billie Eilish com “HIT ME HARD AND SOFT”.

Em seu single de retorno, Katy apostou num pop sintetizado saturadíssimo que escorrega inconscientemente em “Stupid Love” de “Chromatica” (2020) de Lady Gaga. A faixa reforça a força feminina e empoderamento de grupos minoritários como a comunidade LGBT+ de forma caricata e satirizada.

A faixa mira no conceito empoderador e acerta numa caricatura tão grotesca que soa como um insulto a quem ela tenta homenagear.

Além disso, não dá para deixar de ressaltar a contradição em uma faixa defender o empoderamento feminino ao mesmo tempo em que há Dr. Luke, produtor e guitarrista estadunidense, envolvido na produção da faixa. Luke foi acusado de inflição de sofrimento emocional, crimes de ódio baseados em sexo e discriminação no emprego pela cantora estadunidense Kesha em outubro de 2014. O caso foi tão repercutido que até hoje causa debates entre os seguidores da cultura pop, visto que o dano psicológico à Kesha foi imensurável.

A zombaria de Katy numa faixa chamada “mundo da mulher” acompanhada da presença de um produtor acusado de estupro revela que talvez seja sim uma caricatura e deboche da pauta do identitarismo.

O videoclipe tenta causar uma impressão de empoderamento com um figurino exótico e apelativo para aqueles que adoram o que é “chamativo”. A presença de pessoas negras, LGBTs e mulheres marginalizadas é tão constrangedora que parece um insulto em todos os sentidos.

Assista ao videoclipe aqui:

Sonoramente falando, a faixa não há o que dizer. A sensação é de indiferença. A canção não te dá desgosto, nem te impressiona. Ela apenas existe. Não comove. Não faz dançar. Não faz chorar. Não faz sentir raiva. Apenas te faz sentir indiferença e te fará dizer: “tudo bem, vamos para a próxima e podemos esquecer isso.”

O lírico é tão tosco quanto o arranjo enlatado e previsível. Se Lady Gaga for ao Tribunal de Justiça dos Estados Unidos clamar por um processo de plágio, porque ela encaminha na linha da navalha para não parecer que copiou. Aliás, copiar e/ou se inspirar numa faixa que obteve recepção mista é uma proposta inteligente?

Katy Perry se une à Camila Cabello para desgraçar o fortúnio de bons lançamentos deste ano. Uma música produzida por Dr. Luke que ressalta a força feminina é uma piada de mal gosto. “WOMAN’S WORLD” é um insulto que não precisávamos.

Escute “WOMAN’S WORLD” de Katy Perry aqui: