
Gênero: Pop
Gravadora: Warner Records
Lançamento: 3 de maio de 2024
Em “Radical Optimism”, Dua Lipa reafirma o status de artista pop descompromissada com a profundidade artística. Talvez seja o surgimento de um repertório semelhante ao de Katy Perry.
Nesta sexta-feira (3), Dua Lipa lançou seu terceiro álbum de estúdio intitulado “Radical Optimism”, que sucede o fenômeno e marcante “Future Nostalgia” (2020).
A aposta de Dua era que este novo disco fosse um pop psicodélico, que ia na contramão do pop puro de seu álbum de estreia autointitulado “Dua Lipa” (2017) e no pop-dance sintetizado de “Future Nostalgia”. Mas não é bem assim…
Ao escutar o disco, é algo bastante semelhante a seus discos anteriores, inclusive bastante parecido com seu álbum de estreia. Os arranjos “psicodélicos” a que ela se refere estão sutilmente em faixas como “Training Season” e “Illusion”, mas é tão tímido que não irá fazer com que você o defina como um disco de pop psicodélico, como “Starboy” (2016) de The Weeknd, por exemplo.
A nova estética do álbum é ensolarada e bastante úmida, mas sem muito nevoeiro. Isso representa bem a vida que Dua vem levando nos últimos anos, com viagens constantes ao redor do mundo, o que a fez ter experiências leves e de autodescobrimento, inclusive, na análise de “Houdini”, single carro-chefe do disco, citamos este ponto.
O álbum inicia-se com “End Of An Era”, que curiosamente o “fim” começa no “início”. Elementos de new wave são introduzidos como uma viagem “psicodélica” que ela propusera, porém logo se perde para uma guitarra grave que vai desenhando o sintetizador pop que carrega as letras: “o mais doce prazer / eu sinto que vamos ficar juntos / isso pode ser o fim de uma era / quem sabe, amor? isso poderia ser para sempre”. A ponte aqui é bem construída, assim em como todas as pontes do restante do disco, mas o arranjo por ser tão comum pode te fazer se sentir meio desanimado e cansado, afinal, esta fórmula todos nós já escutamos.
A seguir temos a faixa “Houdini”, que serviu como single carro-chefe do projeto e já há análise disponível, onde você pode ler AQUI.
Em “Training Season” temos um arranjo quase orquestral desenhando um pop descontraído, que pode divertir com o lírico: “será que você é alguém que pode ir além? porque não quero ter que te mostrar / se essa pessoa não for você, então me fale, sim / porque a temporada de treinamento acabou”. A construção da produção aqui é tão apelativa que se mexer é inevitável.
Com “The Walls”, a melancolia é abraçada, desta vez, a voz de Dua fica mais leve e com uma entonação melancólica que seguida de um piano com nota única aguda carrega sua voz diante de pop sintetizado que desliza em instrumentos crus como a guitarra, onde ela canta: “mas se essas paredes pudessem falar, (elas diriam): chega / (elas diriam): desista / se essas paredes pudessem falar / (elas diriam): você sabe que / (elas diriam): está ferrada / não deveria doer tanto assim / oh, se essas paredes pudessem falar / elas nos diriam para terminar”. Esta é uma das melhores faixas do disco, onde a produção vocal e melódica é bem mais trabalhada, o que consideramos um ponto positivo.
“Watcha Doing” é a próxima faixa, que, parece ter sido produzido direto da sala acústica de produção de Daft Punk, mas, não, não é. Kevin Parker é o responsável agora. Há elementos da música disco dos anos 80 e há um sintetizador de teclado elétrico que acompanha a música toda com muita beleza e classe, enquanto Dua canta notas interligadas e a voz mais conectada: “se o controle é minha religião e estou indo em direção à colisão / perdi minha habilidade de enxergar com clareza / por favor / o que cê tá fazendo comigo, querido? / estou morrendo de medo de você ser aquele que me mudará / você está na minha cabeça e agora está confundindo minhas decisões / me levando para uma colisão / o que cê tá fazendo comigo, querido? / oh, o que cê tá fazendo?”.
Em “French Exit” temos uma faixa que segue a mesma proposta das faixas anteriores e serve quase como uma transição para a mid-tempo que vem a seguir, “Illusion”, que também serviu como single do disco. A partir de agora, o álbum vai ficando mais linear e a propaganda de Dua em afirmar que esse álbum seria um “pop psicodélico” vai sendo engolida pela contradição. Até agora, não se trata de uma trilha sonora ruim, mas fica a dúvida de para onde ela está indo. Em “Illusion”, o falsete soproso cantado no início que é introduzido até o refrão onde ela canta “illu-u-u-u-u-u-u-u-u-sion” que soa como um travamento no reprodutor de música, que mesmo sendo pegajoso, soa nada original, e talvez esta fosse mesmo a proposta.
“Falling Forever” é tão acelerada que ainda assim não sabemos onde ela quer chegar. A voz de Dua ganha mais projeção e pressão, onde canta com força enquanto um sintetizador pop a empurra: “por quanto tempo, por quanto tempo / isso pode ficar cada vez melhor? / podemos continuar nos apaixonando para sempre? / por quanto tempo, por quanto tempo / podemos ficar juntos assim? / podemos continuar nos apaixonando para sempre?”.
“Anything For Love” é uma faixa curta de 2 minutos e 21 segundos tão intrigante e é uma montanha-russa de 2 em 1. Navegando rapidamente entre uma balada que logo retorna ao pop característico do disco, como se não houvesse tempo para más vibrações: “e não estou interessada em um amor que desiste tão facilmente / quero um amor que esteja determinado a me manter / quando doer, nem pensaremos em desistir / não estou interessada em um coração que não bata por mim / quero uma mente que seja como a minha / quando as coisas ficarem difíceis, nunca parecerá que é demais / lembra quando costumávamos fazer qualquer coisa por amor? / (…) / todos nós temos pavor de sofrer com um coração partido / corremos aos primeiros sinais de problemas / fazemos isso parecer fácil demais / todos nós temos tantas opções / lembra quando / costumávamos fazer qualquer coisa por amor?”, ela recita.
Em “Maria” temos um tributo consciente. A faixa que relata suas experiências da vida amorosa é corrida para que um coral cante junto com ela o nome da faixa diversas vezes diante de um pop sem brilho e desgastado: “Maria / eu sei que você partiu, mas eu te sinto / quando estamos sozinhos / mesmo quando estou aqui, nos braços dele / eu sei que você está em algum lugar do seu coração”. O lírico, apesar de desconcertante, tem um arranjo contrastante à letra, o que pode trazer mais leveza diante de um lirismo tão desconfortável.
E o ato de encerramento fica à responsabilidade de “Happy For You”, simplesmente a melhor faixa do disco de longe. É como se fosse uma resposta que “Maria” relata. Ela realmente percebe que talvez não era para ser. Cantando levemente com uma voz soprosa e “falsetada”, ela desabafa: “terça-feira, tarde da noite, eu vi sua foto / você parecia tão feliz, dava para perceber / ela é muito bonita, acho que é modelo / querido, vocês parecem incríveis juntos / e eu nem sequer quis chorar (oh, que sensação é essa?) / não pude acreditar / tive que me perguntar por quê / eu devo ter te amado mais do que um dia imaginei / (não sabia que podia sentir isso) / porque estou feliz por você / (agora sei que tudo foi real) / não estou brava, não estou magoada / você tem tudo que merece / eu devo ter te amado mais do que um dia imaginei / estou feliz por você”.
O encerramento do disco fala pelo álbum todo, e consideramos um grande acerto.
Em “Radical Optimism”, Dua Lipa reafirma o status de artista pop descompromissada com a profundidade artística. Talvez seja o surgimento de um repertório semelhante ao de Katy Perry.
NOTA:

Escute “Radical Optimism” de Dua Lipa aqui: