
Gênero: Amapiano / R&B / Pop
Gravadora: Epic Records
Lançamento: 22 de março de 2024
O álbum de estreia autointitulado de Tyla encaixa a artista no grupo de artistas da nova geração que estão em ascensão. O disco é um tributo às suas origens feito com respeito, classe e qualidade que raramente se vê em artistas revelação.
No último dia 22 de março, a artista sul-africana Tyla lançou seu álbum de estreia autointitulado “TYLA”. Após a música que definiu o TikTok em 2023, “Water” (vencedor do Grammy Awards 2024 na categoria Melhor Performance de Música Africana), a artista entrou em evidência pelos virais da performance de seu lead single onde no refrão apelativo ela virava uma garrafa de água em suas costas no momento onde o refrão diz “me deixe molhada”.
Antes de seu lançamento, Tyla descreveu o disco como um “álbum experimental”, onde mesclaria o amapiano, pop, R&B e hip-hop. O amapiano é um gênero que surgiu em meados dos anos 2010, que é uma mistura de house music e jazz, à moda da música africana, que pode ser considerada um ritmo contemporâneo. Os principais instrumentos deste gênero são piano e bateria sintetizados.
Tyla diz ter passado os últimos dois anos criando o disco e a maior parte dele foi gravada em Portland, na Jamaica.
O disco é uma festa sensual e calorosa a todo o tempo, como nas canções “Water”, “Truth or Dare”, “Safer” e “No.1”, colaboração com Tems.
O disco inicia-se com “Intro”, com a companhia do artista Kelvin Momo. A introdução é uma simulação (ou não) da situação onde estamos no banheiro (ou quarto) de uma boate fechada e o som de sua trilha sonora fica abafado, revelando que a porta está fechada, fazendo com que o som fique abafado, nos entregando uma atmosfera obscura.
A seguir, temos a faixa inicial “Safer” que traz o amapiano quase cru, onde Tyla harmoniza sua voz até entrar com uma voz soprosa e falsetada característica de cantores de R&B, onde ela nos leva para um refrão cantado acompanhado de um coral, onde ela canta: “eu sei que é perigoso / eu sei que estou mais segura correndo / estou segura por aqui”.
Na terceira faixa, temos o single carro-chefe do disco, “Water”, que é uma das mais marcantes faixas de 2023, que originalmente viralizou no TikTok com vídeos de dança. O viral revelou a artista e ainda por cima com uma excelentíssima faixa, onde o amapiano segue presente, na qual ela exala sensualidade. Há sintetizadores de bateria que seguem sua voz de maneira coerente, até chegarmos ao refrão que foi o motivo pelo qual a música fez tanto sucesso: “me faça suar / me deixe quente / me faça perder o fôlego / me deixe molhada”.
Na faixa seguinte, temos o terceiro single do disco, “Truth or Dare” no qual é uma continuação direta de “Water”, que sutilmente nos entrega um storytelling contrastante à faixa anterior, onde o arranjo com blues ao fundo revela que a intenção foi atingida: “então vamos jogar verdade ou desafio / desafio você a esquecer que costumava me tratar como qualquer um / verdade ou desafio? é verdade que você se importa? / agora que você pode ver o amor de todos / diga-me / agora você se importa? (aah) verdade ou desafio? / você está jogando? verdade ou desafio / diga-me / agora você se importa? verdade ou desafio? / você está jogando? Verdade ou desafio / diga-me”.
Então temos a melhor faixa do disco, “No.1”, colaboração com Tems. O blues e o amapiano se unem a um lírico desabafante, junto com uma impostação vocal quase falada, onde o refrão recita: “engraçado como eles pensam que podem mudar você / proteja sua energia porque eles tentarão reorganizar você / mantenha os pés no chão, amor, e eu vou te dizer, você verá através / todas as pequenas mentiras que tentam mantê-lo longe do verdadeiro você / corte todos eles! / não há mais drama na minha vida / não, eu não quero mais / não há mais drama na minha vida / sim, corte todos eles / não quero drama na minha vida / não, eu não posso mais fazer isso / não há mais drama na minha vida”. A colaboração com Tems se encaixa perfeitamente com a proposta da faixa, onde sua voz dá mais ênfase na mensagem: “transformamos milhões em bilhões apenas mantendo as opiniões de fora / senhora elegante, me chame de premium, eu tenho o tempero secreto / não vai vigiar, garota, eu te digo que começa com todas as suas vitaminas / e polvilhe na iluminação / e você estará no seu caminho, sim / você diz que está brilhando, mas eu vejo o caminho / você pode ter dinheiro, mas não engana ninguém além de você / aquelas pessoas que você chama de amigos, mas nunca consegue se relacionar / é hora de atualizar, faça o que quiser e, garota, vá / corte todos eles!”.
Em “Breathe Me”, o arranjo vai ainda mais para um lado pesado, obscuro e intimidador. A voz de Tyla mantém a mesma proposta, com apogiaturas, melismas e vibratos bem colocados, clássico do R&B. O refrão é tão picante e aconchegante que pode te cativar: “você não precisa de ar, você pode apenas / me respirar / inale com mais força / me respire / quero sentir a batida do seu coração mais forte / vou te elevar / podemos ir para onde você quiser”.
Em “Butterflies” a faixa se desvincula do disco sonoramente, e acidentalmente se desconecta da sensualidade e compromisso rítmico do projeto.
E então temos o segundo single do disco, “On and On”. Desta vez, o jazz está mais presente com um teclado reverberante sintetizado acompanhado de um blues que intimida um pouco. Sua voz tem menos projeção, sendo novamente soprosa e cheio de melismas e falsetes que dão um ar de sensualidade ainda mais forte, principalmente no refrão: “vamos voltar no tempo / festa como se fosse 1995 / eu só quero dançar a noite toda, sim / você sabe que eu gosto assim / vamos voltar no tempo / dance como se voltássemos no tempo / quando a festa é mais parecida com 1995 / eu só quero dançar a noite toda / sim, diga a eles: apague as luzes / deixe a festa durar a noite toda / nós podemos continuar, continuar e continuar / vamos fazer a festa durar a noite toda / nós podemos continuar, continuar e continuar”.
Em “Jump”, voltamos à 2015. A colaboração Gunna e Skillibeng se aventura quase no reggaeton latino à moda do ritmo afrobeat. Os efeitos utilizados no refrão podem ser divertidos, e a música é tão corrida para caber em 2:27 minutos, que o lírico corre para encaixar o rap, enquanto Tyla apenas se apresenta para dar um efeito adicional à faixa. “On My Body”, colaboração com Becky G, desliza mais uma vez no reggaeton latino que também parece corrido e incompleto.
A faixa de encerramento antes do remix de “Water”, “To Last” foi uma boa escolha para um ato de encerramento, apresentando um EDM feito aos moldes de 2024 que não fique difícil de degustar. O blues ao fundo é sutil e leve, até entrar o synth eletrônico que carrega sua voz preguiçosa cantando “to last, to last, to last, to last…”.
O álbum de estreia autointitulado de Tyla encaixa a artista no grupo de artistas da nova geração que estão em ascensão. O disco é um tributo às suas origens feito com respeito, classe e qualidade que raramente se vê em artistas revelação.
NOTA:

Escute “TYLA” de Tyla aqui: