10 anos de “BEYONCÉ”: a virada de chave para a indústria

“BEYONCÉ” de Beyoncé
Gênero: R&B / Eletropop / Pop
Gravadora: Columbia
Lançamento: 13 de dezembro de 2013

Em torno de 10 anos atrás, Beyoncé lançou de surpresa seu quinto álbum de estúdio autointitulado “BEYONCÉ”. O primeiro disco da artista desde “4” (2011), foi o seu primeiro álbum “visual”, onde todas as faixas do álbum continham um videoclipe, dando um novo significado para a promoção de álbuns na indústria. O álbum foi lançado às 14h do horário local de Los Angeles, Califórnia, EUA. Além disso, o impacto do lançamento surpresa do disco foi tão gigantesco, que incentivou a Universidade de Harvard a fazer um estudo de caso na Escola de Negócios sobre como lançamentos como esses de uma artista como Beyoncé pode influenciar na vida da sociedade entusiasta de música.

Posteriormente, a estratégia de lançamento surpresa foi adotada por artistas como Drake, Kanye West, Kendrick Lamar, Ariana Grande, Taylor Swift, entre outros. 

A Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, siga em inglês) passou a considerar o lançamento de álbuns global na sexta-feira para contagens de paradas de sucesso ao redor do mundo. A revista estadunidense Billboard declarou que a decisão do órgão é uma sutil e evidente influência do que Beyoncé causou na cultura pop musical. Andrew Flanagan, redator da revista disse: “Após sete meses de idas e vindas semi-públicas, uma conversa instigada em parte pela pirataria australiana e pelo lançamento surpresa de Beyoncé em dezembro de 2013, resultou na aceitação da indústria fonográfica global a sexta-feira como a data de lançamento de novos álbuns”.

Em 2014, a revista TIME nomeou Beyoncé como uma das artistas mais influentes do ano pelo impacto estrondoso que seu disco causou.

O disco, que vendeu mais de 800 mil unidades apenas nos Estados Unidos na sua semana de estreia, aborda principalmente o gênero do R&B, além de outros como o eletropop, dance pop e hip-hop. 

O álbum que analisamos foi o “BEYONCÉ [Platinum Edition]”, onde contém faixas adicionais e remixes da versão padrão.

O álbum inicia-se com a desesperadora “Pretty Hurts”, faixa co-escrita por Sia, Beyoncé e Joshua Coleman. A faixa retrata os padrões estéticos impostos pelos influencers de redes sociais, artistas e blogueiros. É um pop bem clichê, que, com a voz de Beyoncé, retira essa sensação de falta de originalidade. Os versos “você tenta consertar algo / mas não pode consertar algo que você não consegue ver / é a alma que precisa de cirurgia” fazendo alusão aos distúrbios em relação ao corpo que as pessoas podem enfrentar, em especial as mulheres. No videoclipe, Beyoncé está em um concurso de beleza, onde todas tentam se manter superiormente belas umas às outras, mas que, interiormente, cada uma enfrenta uma confusão imensa, o que de fato acontecia à época, e se agravou com o passar dos anos. O clímax da faixa de abertura é lindíssimo, onde Beyoncé canta: “quando você está totalmente sozinha / e deitada na sua cama / o reflexo bate bem na sua frente / você está feliz consigo mesma? / você retirou a máscara / a ilusão já foi embora / você está feliz consigo mesma?”.

O disco começa bem, e com faixas que hoje podem ser consideradas longas demais, é o caso de “Haunted”, “Blow”, “Partition”, “Rocket” e “Mine”. Desde sempre, faixas longas de Beyoncé são uma dádiva dos céus, assim como já ocorreu em faixas de outros discos, como “Dance for You” de “4” (2011) e “VIRGO’S GROOVE” de “RENAISSANCE” (2022).

Sonoramente, o projeto é um pouco diferente do que estávamos acostumados com Beyoncé, desde seu álbum de estreia “Dangerously In Love” (2003) até “4” (2011). Apesar do R&B estar presente, o eletropop que dominou os anos de 2010 a 2015 estavam presentes aqui, mas isso não indicava que ela estava rendida ao que era popular, ela transformou o que estava na moda em algo original, que só ela sabe fazer. 

As faixas “XO” e “Jealous” mostram uma certa vulnerabilidade que pode ser relacionada para muitos. A balada pop em ambos não é lenta, mas é cativante em demasia. No caso de “Jealous” ela canta: “eu te odeio pelas suas mentiras e disfarces / e odeio a gente por fazermos amor tão bem / e eu amo fazer ciúmes em você, mas não me julgue / eu sei que estou sendo insuportável, mas isso não é nada / eu só estou com ciúmes / eu só sou humana / não me julgue”. Esta é uma das faixas mais relacionáveis do álbum, que, apesar de melodicamente não haver nada espetacular, ela faz bem o seu papel liricamente. Em “XO”, a música é uma declaração aberta de amor e paixão, acompanhada de um pop noturno bem cintilante, onde ela canta: “na hora mais escura da noite / eu procuro pela multidão / seu rosto é tudo o que vejo / vou te dar tudo / amor, me ame com as luzes apagadas”. O videoclipe é divertidíssimo e repassa uma vibração aconchegante e animada que também te fará se sentir cativante.

Em “Flawless”, há duas versões da mesma canção: um remix com Chimamanda Ngozi Adichie e um remix com Nicki Minaj. As duas são excelentes! O remix com Nicki Minaj contém o sample de “SpottieOttieDopaliscious” (1998) de OutKast e “Steve Biko (Stir It Up)” (1993) de A Tribe Called Quest. O sample de OutKast foi utilizado também em “All Night”, penúltima faixa de “Lemonade” (2016), sucessor de “BEYONCÉ”. A amostra é muito bem ajustada aqui, e assim como em “All Night”, esta faixa vale a escuta. A união sensual e ousada de Beyoncé e Nicki é sempre espetacular, assim como também foi em “Feeling Myself” de “The Pinkprint” (2014). No remix com Nicki, a provocação está por toda parte, em versos como: “ei, como o médico do MJ [Michael Jackson] / eles estão me matando / propofol, eu sei que eles esperam que eu falhe / mas diz pra eles que ganhar é a porra do meu protocolo / porque eu marco antes de fazer a jogada / essas vadias estão perdendo de lavada e nem tem sabão envolvido / esse é o sonho de todo cara, fantasiando com a Nicki e a B / se você não tá jogando no time, você tá na série D”.

Alguns dos remixes da versão platina do álbum, poderiam ser descartadas facilmente, é o caso de “Blow Remix” com Pharrell Williams e o remix de “Drunk In Love” com Jay-Z e Kanye West.

O álbum autointitulado de Beyoncé desliza em alguns momentos, mas seu impacto é tão grande que até suas imperfeições são toleráveis.

NOTA:

Escute “BEYONCÉ” de Beyoncé aqui:

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