Review: “yes, and?” de Ariana Grande

Uma escuta obrigatória: O retorno de Ariana Grande com “yes, and?” eleva ainda mais o nível do repertório da artista. Ela acerta mais uma vez para um carro-chefe

Ariana Grande está de volta, com seu mais novo single carro-chefe “yes, and?” de seu sétimo álbum de estúdio. De “The Way” (2013) à “positions” (2020), há identidade em todos eles para abrir uma era nova. Com “yes, and?” não seria diferente. Ariana – como de costume – acerta ao nos apresentar sua nova era. A escolha de primeiro single continua a ser um acerto da artista.

Após o morníssimo “Positions” (2020), introduziu-se a dúvida de para onde ela iria em seu próximo disco, a quase certeza que tínhamos era que ela não se manteria no R&B, visto que dividiu muito a opinião dos fãs e da crítica especializada. “Positions” é um álbum que só o tempo irá provar a beleza e qualidade finíssima dele.

Em “yes, and?” a aposta é no gênero house, especialmente inspirado em Madonna dos anos 80. A produção de Max Martin e Ilya Salmanzadeh interpola “Vogue” de Madonna com maestria, o que não esperávamos menos dos produtores veteranos que já trabalharam em outros grandes hits como “Into You”, “Bang Bang”, entre outros.

A escolha de haver poucos elementos na faixa é característico de Max e Ilya, para não ser difícil de degustar. A escolha foi de parecer o mais cru possível, o que era uma realidade nos anos 80, e isso foi feito com bastante sutileza e cuidado.

Em contramão de “positions”, Ariana optou por se conter mais em ad-libs e preenchimentos vocais, o que por aqui sinto muito, pois ela é uma das maiores e melhores artistas no quesito, assim como Beyoncé e Mariah Carey (inspirações de Ariana) são. Talvez a intenção de não adicionar tantos preenchimentos vocais foi o que supracitei acima, os anos 80 não tinha tantos recursos tecnológicos como hoje para produzir as faixas, e se esse for o motivo, é compreensível. 

A faixa inicia-se com uma introdução intrigante que beira à crise de ansiedade para a primeira escuta. Há um teclado elétrico no início que fica em looping com uma voz modificada ao fundo repetindo a mesma frase todo o tempo até o final da introdução, fazendo quase um paralelo com “the light is coming” (2018), colaboração com a rapper Nicki Minaj de seu quarto álbum “Sweetener” (2018). 

Após a introdução, a produção entra sutilmente até nos apresentar um arranjo de ataque que adicionado a um piano bem agudo nos introduz Ariana cantando com a voz suave e soprosa. Em meados de 2023, um burburinho sobre o fim de seu casamento com o corretor de imóveis Dalton Gomez surgiu e sua aproximação com seu parceiro de gravações Ethan Slather para o filme “Wicked” (2024), criou-se alegações de que ela havia tido um caso com Ethan (que estava casado). Ariana não disse nada durante o período, e a resposta foi dada aqui na faixa, onde no monólogo ela diz com a voz suave e leve: “por que você se importa tanto com qual pau eu sento?”. A sutileza na resposta demonstra classe e despreocupação, afinal, Ariana não é mais a mesma artista de “Problem” (2014), muito menos de “The Way”. Hoje ela é pessoalmente uma mulher adulta que não deve satisfações de sua vida para ninguém, e a resposta está em sua arte. A resposta numa canção pop-house é brilhante, e ela já fez algo semelhante no single carro-chefe “thank u, next” (2018), mas dessa vez com ainda mais sutileza.

A intenção de Ariana Grande aqui não é mostrar suas quatro-oitavas de extensão vocal, para não parecer que ela está falando alto com seus críticos, afinal, pessoas baixas e maldosas não merecem muito de nossa energia, não é mesmo?

No refrão final, Ariana finaliza com ad-libs contidos, sua voz não tem muita potência e isso é explicitamente proposital, pois sabemos de sua capacidade vocal. Para quem ama a Ariana pop vocal powerhouse vai se desapontar com a falta de preenchimentos vocais, mas a escolha dela é compreensível com toda a interpretação que coloquei nesta análise. 

Além disso tudo, sabemos que ninguém faz como Ariana um lírico relacionável que faz todo mundo usar as letras de suas músicas como legendas de posts no Instagram, e é algo natural, pois é a forma que ela sempre se expressou em suas músicas.

O retorno de Ariana Grande é sutil e ainda assim arrebatador, como disse a Billboard: no cenário de hoje da indústria musical pop, só ela tem preenchido a música pop autêntica, e ela volta mais uma vez para preenchê-lo, e da próxima vez, espero que não demore tanto.

Escute “yes, and?” de Ariana Grande aqui: